Elogio do homem alentejano

Quando decidi vir viver para o Alentejo, não vim sozinha. Se o tivesse feito, o mais provável era não ter passado do primeiro Verão – e, por esta altura, talvez já estivesse de volta a Lisboa.

O parceiro do 'crime' só podia ser um homem alentejano. Só um homem alentejano tem o que é preciso para aturar uma lisboeta cheia de manias.

Conhecemo-nos em Lisboa. Eu era tão senhora do meu nariz como distraída, e ele um alentejano simpático mas de ar sério. Ao contrário do que seria de esperar, nunca foi preciso eu fazer de guia – porque o alentejano simpático já vinha equipado com essa qualidade muito apreciada em alguns homens que é a de se orientarem em qualquer parte do mundo, como se ali tivessem vivido toda a sua vidinha.

E esta é uma das características do homem alentejano. Que não é prático – como, regra geral, nenhum homem é – mas nunca se atrapalha. Fruto talvez da quietude da planície, o homem alentejano apresenta um comportamento calmo e descontraído, o que muito ajuda na gestão de crises, quer sejam logísticas, emocionais ou de outra origem qualquer.

Como tal, o homem alentejano resolve os problemas e divergências à mesa em amena camaradagem, como bom garfo e bom copo que é.

A propósito, o homem alentejano pode não saber cozinhar uma refeição de três pratos – mas, em compensação, sabe preparar belíssimos petiscos, que farão qualquer mulher esquecer-se da dieta. Boa parte dos homens alentejanos parece ter herdado da mãe, cozinheira de mão cheia, o dom da culinária.

Talvez devido à grande diferença de temperaturas entre o Verão e o Inverno, o homem alentejano tem um abraço caloroso nos meses mais frios do ano e conhece todos os sítios fresquinhos para nos refastelarmos durante as tardes escaldantes de Agosto.

O homem alentejano é paciente. E, tal como aprendeu que um sobreiro leva vinte anos a dar a primeira cortiça, sabe que as melhores coisas da vida não acontecem de um dia para o outro.

O homem alentejano é firme nas suas convicções, mas suficientemente tolerante para mudar um candeeiro de sítio quinze vezes, com todo o trabalho de electricista que a tarefa implica. E só começa a revirar os olhos à décima primeira…

O homem alentejano é simples mas não simplório. Simples porque sabe que a vida já é, por si só, suficientemente complicada – dispensando confusões provenientes de estados de alma exagerados e voláteis ou ideias mirabolantes.

 E é polivalente. Tão depressa dá uma opinião sobre o nosso look como a seguir parte para o monte de motosserra em punho para cortar lenha. Aliás, tenho para mim que o homem alentejano é a versão portuguesa do lumbersexual. Não tanto na variante 'lenhador da floresta' mas mais na variante 'senhor da vasta planície e dos montes remotos e solitários'.

Até o estilo do outfit pode perfeitamente ser a versão portuguesa: as botas de pele, as camisas aos quadrados em alternativa à camisa branca e, para finalizar, o tradicional capote em vez da parka canadiana.

O homem alentejano traz a calma ao caos, mas também agradece um bocadinho da agitação e lufa-lufa citadinos na placidez da sua vida. E é aqui que entra o alvoroço e a inconstância da companheira lisboeta.