Durão Barroso acabara de fazer 18 anos quando chegou o 25 de Abril de 1974. Dava, também, os primeiros passos como estudante universitário, na Faculdade de Direito de Lisboa. Se já antes participara pontualmente em acções de contestação à ditadura, após o 25 de Abril envolve-se activamente com a ala estudantil ligada ao MRPP, que tinha em Direito o seu mais forte bastião. Enquadrado na FEM-L (Federação de Estudantes Marxista-Leninista), o 'camarada Veiga' (nome de guerra de Durão Barroso), destaca-se pelos seus dotes de oratória e capacidade de liderança. No calor do PREC, torna-se um dos mais aguerridos militantes do MRPP nos confrontos, nas escolas ou nas ruas, contra o 'social-fascismo' do PCP, força dominante nesses anos de brasa de 1974 e 1975.
A aliança com Margarida Sousa Uva
Conhece Margarida Sousa Uva na cantina da cidade universitária, em 1975, quando chegava ao rubro o calor das lutas revolucionárias e estudantis. Estão ambos com 19 anos e Margarida, seis meses mais velha, estuda na Faculdade de Letras vizinha da Faculdade de Durão. Começam a namorar nesse ano de 1975, quando ele é eleito presidente da Associação de Estudantes de Direito, e casam-se cinco anos depois, em 28 de Setembro de 1980, na Sé de Lisboa. Ele viria da Suíça para o casamento, pois fixara-se entretanto em Genebra para se diplomar em Estudos Europeus e fazer um mestrado em Ciência Política. Em 1983 nasce Luís, o primeiro dos três filhos do casal (seguir-se-iam Guilherme e Francisco).
Nos Governos de Cavaco, nos anos 80
Inscreve-se no PSD no final de 1980, após a trágica morte de Sá Carneiro e pela mão de Santana Lopes, seu amigo de Faculdade. Junta-se no PSD ao grupo Nova Esperança (Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice e Santana, entre outros), muito crítico da liderança de Balsemão e do Governo do Bloco Central, que viria a apoiar Cavaco Silva no Congresso da Figueira da Foz, em 1985. Nesse ano, entra no primeiro Governo, minoritário, de Cavaco como subsecretário de Estado no Ministério dos Assuntos Internos. Sobe a secretário de Estado dos Assuntos Externos e Cooperação (1987-92) – destaca-se, em 1990, na promoção dos Acordos de Bicesse entre MPLA e UNITA – e a ministro dos Negócios Estrangeiros (1992-95). Em 1995, no final do cavaquismo, perderia por poucos votos a liderança do PSD para Fernando Nogueira, no Congresso do Coliseu. Mas em 1999 chegaria a presidente do PSD, sucedendo a Marcelo Rebelo de Sousa.
Em 2002 chega a primeiro-ministro
Um mês depois de ascender à liderança do PSD, em Junho de 1999, Durão Barroso perderia para António Guterres as europeias (31,1% contra 43,1% do PS). E, logo a seguir, em Outubro, seria também derrotado nas eleições legislativas (32,3% contra 44,1%). Foi resistindo na liderança. E os maus resultados do PS nas autárquicas de Dezembro de 2001 (perdendo, entre outras, as câmaras de Lisboa e Porto para o PSD), aliados aos problemas de um Governo obrigado a aprovar os chamados 'Orçamentos do queijo limiano' (com o voto do deputado do CDS por Ponte de Lima a juntar-se aos 115 parlamentares do PS), levam Guterres a pedir a demissão do Governo e da liderança dos socialistas. Nas legislativas de Março de 2002, o PSD de Durão vence com 40,2% (contra 37,8% do PS de Ferro Rodrigues) e alia-se de imediato ao CDS de Paulo Portas (8,7%) para formar Governo, apoiado por uma maioria de 119 (105+14) deputados. Durão toma posse como primeiro-ministro a 6 de Abril de 2002.
Em 2003, na Cimeira das Lajes
É o momento em que Durão Barroso salta para a ribalta internacional. A 16 de Março de 2003 é o anfitrião da Cimeira das Lajes, nos Açores, que reúne, além dele, o Presidente dos EUA, George W. Bush, o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, e o presidente do Governo espanhol, José-Maria Aznar. Da reunião saiu um ultimato a Saddam Hussein, à margem dos esforços da ONU, para o Iraque renunciar às armas de destruição maciça, supostamente químicas, que possuiria. Quatro dias depois, a 20 de Março, uma coligação internacional liderada pelos EUA e o Reino Unido ocupava militarmente o Iraque e derrubava Saddam.
Presidente da Comissão Europeia, em 2004
Em Junho de 2004, quando Portugal vibrava com a organização e as emoções do Euro-2004, o seu nome começa a ser falado em Bruxelas como hipótese para suceder ao italiano Romano Prodi. França e Alemanha queriam o primeiro-ministro belga, o Reino Unido opunha-se e o consenso de Blair, Aznar e Berlusconi fez-se em torno de Barroso. No dia do inesquecível Portugal-Inglaterra (2-2 e 6-5 nos penalties), a 24 de Junho, chegava o apoio que faltava: o do eixo franco-alemão e do Presidente Jacques Chirac. Tendo a garantia do Presidente Jorge Sampaio de que não anteciparia eleições, Durão anuncia ao país a sua saída para Bruxelas no dia 29, deixando Santana Lopes no seu lugar.
O discurso de despedida de Bruxelas, em 2014
A 8 de Maio de 2014, Durão Barroso fez, na Alemanha, o balanço dos seus dois mandatos, como presidente da Comissão Europeia, concluindo: “Tenho de facto uma paixão pela Europa”. Ao longo de dez anos, não gerou unanimidade de opiniões, mas soube construir pontes e consensos e ultrapassar uma gravíssima crise económica e financeira (que durou de 2008 a 2012). Foi o motor de uma maior integração dos 28 países da União e do reforço de poderes do Parlamento Europeu. A 31 de Outubro, deu o seu lugar a Jean-Claude Juncker e despediu-se em quatro línguas: “Auf wiedersehen, goodbye, au revoir, adeus”.