Cães de praia

Parece que uma das tendências deste ano é levar – ou, no meu ponto de vista, trazer – os animais de férias. Segundo um estudo da Homeway, as pessoas com animais de estimação dizem ter sentimentos de culpa por deixarem os animais para trás, não conseguindo apreciar devidamente as férias.

Antes de avançar mais nesta crónica, devo acrescentar que não sou defensora da humanização dos animais de estimação e tão pouco deixo as minhas cadelas subirem para o sofá ou dormirem comigo, salvo raras excepções.

Entretanto, num destes dias, numa ida à praia do Carvalhal – que, por ser muito concorrida, frequento pouco – dou de caras com um daqueles sinais a proibir a entrada de cães na praia. E, além de proibir, o sinal alertava para o facto de os cães na praia serem um risco para a saúde pública.

Olhei à volta, para as pessoas que se dirigiam para a praia, e interroguei-me: «Quantas terão as vacinas em dia? E, caso não as tenham, isso constituirá também algum tipo de perigo para a saúde pública?».

A seguir presumi que as minhas cadelas estarão mais vacinadas do que a generalidade das pessoas que frequentam o areal. Aliás, até há pouco tempo, eu própria tinha uma vacina em atraso…

Por acaso, não costumamos levar as cadelas para a praia no Verão. Mas é só mesmo por falta de paciência para estarmos três horas seguidas a atirar a bola – e por toda a imensa logística necessária para manter um cão na praia durante algumas horas com este calor.

Sei muito bem que a proibição dos cães na praia tem pouco que ver com vacinação e muito mais com a possibilidade de deixarem ‘presentes’ na areia. Mas tenho para mim que, quem se dá ao incrível trabalho de trazer o cão de férias (o que implica espaço no carro, ração, mais água, sombrinha extra e, em muitos casos, mais uma toalha), também trará uns saquinhos para não deixar nada na areia.

Por outro lado, os cães que por ali andam sem dono, sem vacinas e sem ninguém que lhes apanhe os ‘presentes’, dificilmente conseguirão cumprir aquela regra.

E os outros resíduos? Ora foi o Encontro Nacional dos Estudantes Enfermeiros, em Maio, que deixou papéis colados por todo o lado e que hoje, três meses passados, ainda lá estão; ora são as juntas de freguesia e as associações da terra, com os seus cartazes da festa do frango assado e do porco no espeto, e os bailes e bailaricos com os mais famosos acordeonistas da aldeola e arredores; ora são os pescadores, a quem a ideia de levarem um saco do lixo para depois poderem trazer de volta as caixas de isco ou os anzóis partidos nunca ocorreu; ora é a malta dos BTT e modalidades afins de ciclismo que deixa fitas por tudo quanto é arbusto; ora, ainda, os muitos despejos de entulho que vão enchendo as poucas áreas de mata mais próximas da vila. Isto, para não falar de todas as pessoas que ainda são incapazes de aguentar nas mãos um pacote de batatas fritas vazio à espera de encontrar um caixote do lixo.

Voltando à história do problema de saúde pública que podem ser os cães na praia, estou em crer que todo este lixo acima mencionado, causado pelos animais ‘racionais’, vai acabar por ser (esse sim) um terrível problema para a nossa saúdinha.

Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 21/08/2015