Uma solução

O problema dramático dos imigrantes que vêm do Médio Oriente e do Norte de África para a Europa em condições arrepiantes, amontoados nos porões de barcaças a cair de podres – num impensável retrocesso civilizacional que recorda o transporte de escravos em séculos passados -, não tem aparentemente solução.

As boas intenções dos que defendem que a Europa deveria resolver o problema não passam disso mesmo: de boas intenções.

Eles próprios não acreditam nelas.

É óbvio que a Europa não pode começar a absorver todos os imigrantes que vêm do Sul (e até já de países asiáticos, como o Paquistão).

Por cada integração que se desse, outra vaga se seguiria.

Em pouco tempo haveria uma corrente ininterrupta (e sempre a engrossar) de gente a imigrar para o ‘eldorado europeu’.

A Europa tornar-se-ia rapidamente um local perigoso, pois os que cá estão começariam a reagir – resistindo à ‘invasão’ com unhas e dentes.

Nenhum povo gosta dos invasores.

Os problemas raciais tornar-se-iam o pão nosso de cada dia – e multiplicar-se-iam as milícias populares tipo Ku Klux Klan para manter a ‘ordem’.

Os partidos da direita radical tornar-se-iam maioritários.

Seria o caos.

Nem por acaso, enquanto escrevia este artigo recebi dois emails que diziam o seguinte: 

1 – «Há montanhas de vezes mais africanos na Europa do que brancos em África. O que fizeram aos brancos no Zimbabwe devia revoltar e levar o mundo a actuar. Eu grito agora: ‘Europa para os europeus!’. Fim ao assalto silencioso da Europa e da sua cultura e maneira de estar no mundo».

2 – «São migrantes que já conseguiram alcançar o Sul da Itália e estão a caminho da França. Vejam como se comportam. E não é ficção: o Governo português prepara-se para os receber! Em breve chegarão às nossas cidades».

O receio na Europa já começou a instalar-se – e o radicalismo a vir ao de cima.

Mas, se a Europa não pode receber todos os que desesperadamente a procuram, também não pode construir um muro à sua volta.

A globalização é imparável e não adianta tentar evitá-la colocando barreiras artificiais.

Mais tarde ou mais cedo, elas cairão.

Que fazer, então?

Os países directamente afectados – e mesmo os não afectados – têm-se reunido em debates intermináveis, mas ainda ninguém apresentou verdadeiramente uma solução.

Propõem-se remendos que, à partida, todos sabem que não  irão funcionar.

Parece-me evidente que a solução para o problema não pode estar no ‘ponto de chegada’ mas no ‘ponto de partida’.

A solução não pode estar na Europa – mas em África e no Médio Oriente.

É preciso que as pessoas possam ficar onde estão – porque, a partir do momento em que iniciam a fuga para a Europa, o problema torna-se incontrolável.

Muitas morrem no mar e outras ficam numa terra de ninguém, porque ninguém as quer.

Mas como fixar as pessoas nos sítios onde vivem, se todos sabemos que tão depressa não haverá paz em certos países de África, do Médio Oriente e da Ásia, e que as condições de vida aí demorarão décadas a atingir patamares mínimos?

Sendo impossível evitar que muita gente continue a deixar os seus países para fugir à guerra e à fome, o que há a fazer é encontrar maneira de a fixar o mais possível na região de origem, evitando a fuga desordenada e degradante para a Europa.

E para isso só vejo uma solução: criar entre a África e o Médio Oriente um ou dois novos Estados, geridos pela ONU, que funcionem como territórios de acolhimento.

Esses novos países, governados por funcionários internacionais, tentariam criar estruturas no sentido de serem, a breve prazo, o mais autónomos possível.

E até lá teriam de ser financiados pela comunidade internacional.

Hoje, em muitos lugares do mundo, existem campos de refugiados, que representam um esforço social e financeiro hercúleo.

Este seria um conceito diferente.

Não seriam campos de refugiados mas verdadeiros ‘países de acolhimento’, com a sua administração, as suas instituições, a sua economia, onde os imigrantes poderiam trabalhar e criar raízes.

Perante esta ideia, muitos levantarão dificuldades.

E quem cederia território para esses novos Estados?

E como pôr em harmonia pessoas com religiões distintas e línguas diferentes?

E como isto? E como aquilo?

A esses eu respondo: alguém tem uma ideia melhor?

Quando não queremos resolver um problema, todas as pequenas dificuldades se agigantam.

Mas se quisermos mesmo enfrentar esta questão, teremos de passar por cima das dificuldades e dos problemas – e caminhar para uma solução, em vez de procurarmos desculpas para não agir.

Uma coisa é certa: a solução para este problema tem de ser encontrada lá e não aqui na Europa.

E tem de ser a comunidade internacional no seu todo, e não apenas a Europa, a tomar o problema nas mãos.

jas@sol.pt