É desejável que Paulo Macedo fique no Ministério da Saúde

No dia de hoje, em que os jornais especulam quem sai do governo, quem fica, e em que pastas, também posso dar uma achega para essa discussão: considero essencial manter Paulo Macedo no ministério da saúde.

Paulo Macedo foi um bom aluno de economia, que arranjou emprego no BCP, onde subiu na hierarquia do banco. Tornou-se uma figura pública em 2002, quando a ministra das finanças, Manuela Ferreira Leite, o conseguiu convencer a aceitar o cargo de director-geral das finanças, embora mantendo o salário do BCP: mais de 20.000 euros mensais, o que se tornou um tema de debate político.

Na minha opinião, Paulo Macedo valeu esse dinheiro ao país e muito mais. A fuga ao fisco tinha-se tornado no desporto nacional. Discreta (só deu uma entrevista à comunicação social, quando abandonou o lugar), mas eficazmente, Paulo Macedo modernizou e motivou a máquina fiscal, com amplo uso da informática. Facilitou a vida dos cidadãos cumpridores, acabou com as empresas que só existiam para darem prejuízo, e motivou os seus funcionários. Passou, incólume, por três ou quatro governos diferentes (Barroso, Santana Lopes, e um ou dois de Sócrates, já não me lembro). Quando finalmente cessou funções, foi alvo de um louvor oficial por parte do ministro das finanças socialistas, Teixeira dos Santos. E, quando saiu, voltou ao BCP, embora num cargo mais elevado: tornou-se administrador.

Por pouco tempo ficaria fora do governo. Passos Coelho convidou-o para ministro da saúde, e ele aceitou. Ser ministro da saúde é um trabalho ingrato, pois com o aumento da esperança de vida e o uso de novos fármacos, mais eficazes mas mais caros, os custos tendem a disparar. Paulo Macedo fez um bom trabalho no controle de custos. Por exemplo, controlou muito bem os preços dos medicamentos. O seu ponto fraco é a falta de acesso dos cidadãos à saúde, especialmente para os mais desfavorecidos, que esperam semanas e meses por consultas médicas.

Essa é uma falha grave. Mas é possível que, com um orçamento mais desafogado, que as condições económicas agora permitem, esse problema possa ser combatido.

Paulo Macedo fez um bom trabalho na saúde pública portuguesa, e espero que continue como ministro do sector. É que ainda há muitas ineficiências a combater. Por alguma razão os hospitais privados portugueses são muito lucrativos. Não são só os preços que os doentes pagam, é também um controle de custos mais apertado.

Como disse o meu professor de Logística no MBA: “Nos hospitais públicos há desvios de 25% em relação ao orçamentado, e toda a gente vive bem com isso”. (Como é frequente no Porto, a frase é ambígua: “vive bem”, como?). Por isso é que eu acho que Paulo Macedo deve continuar, mesmo que isso lhe implique fazer sacrifícios pessoais. Duvido que haja muitas pessoas em Portugal que possam ser ministros da saúde tão bons como ele.