João Almeida: ‘Não há razão para que o próximo líder do CDS seja de transição’

Foi o primeiro dos putativos sucessores de Portas a colocar-se fora da corrida… porque  não é o momento. Marcelo virou à esquerda? ‘É sempre assim nas presidenciais’.

Era um dos nomes apontados para a corrida à sucessão de Paulo Portas. Por que decidiu colocar-se tão cedo fora da corrida?

Era claro para mim que não tinha, nesse momento, intenção de avançar para a liderança do partido e, como tal, achei que tinha de dizer o mais depressa possível, face aos apelos que estava a receber. Gosto de assumir e de tomar as decisões nos momentos certos. E de ser eu a anunciá-las.

Tem uma base significativa de apoiantes que o queriam ver como líder.

É a mesma base que aprecia a qualidade de outros colegas que eu entendo que, neste momento, quer em termos de vontade, quer em termos de capacidade para o exercício do cargo, estão em melhores condições para assumir uma candidatura. Neste momento, há colegas no CDS em melhores condições para apresentarem uma candidatura à liderança.

Ainda assim, apresenta uma moção que podia ter um rosto para líder.

O próximo Congresso será eletivo e só irão a votos as moções dos candidatos a líder. Estou, como sempre estive, empenhado naquilo que deve ser o modelo de partido do futuro. Vamos apresentar uma moção que se resume à necessidade de o CDS ser um partido com força nas bases, consistência de quadros, capacidade de intervenção nos grandes debates sociais, que se afirme como um grande partido e com perspetivas de crescimento.

Espera que as suas propostas sejam acolhidas pelo próximo líder?

Naturalmente. Estamos a trabalhar para isso.

Nuno Melo está em reflexão. Ainda não decidiu. Deve avançar?

Cada um tem direito ao seu tempo de reflexão e tem direito a uma decisão que é sempre pessoal.

Não se criaram expectativas de tal forma que é quase impossível  Nuno Melo não ser candidato?

As pessoas que eventualmente possam vir a ser candidatas a presidente do partido estão a refletir e escolherão o tempo certo para anunciarem as suas decisões.

O que seria um CDS de Assunção Cristas e um CDS de Nuno Melo?

Há duas coisas essenciais para liderar um partido: ter vontade e ter um projeto. Como não há candidatos anunciados, não vou pronunciar-me sobre quem ainda não anunciou uma decisão.

Será negativo para o CDS que apareçam vários candidatos?

Depende da qualidade do debate interno e da capacidade de agregação que se verificar. Uma candidatura única que consiga agregar pode ser muito positivo. Duas candidaturas divergentes, que possam gerar um bom debate, e que a solução vencedora saia ainda mais forte, também pode resultar numa boa solução. Não há aqui hipóteses que se excluam.

O sucessor de Paulo Portas será um líder de transição?

Espero que não. Não me parece que haja razão alguma para que o próximo líder seja de transição. Os líderes devem ser líderes dos seus próprios ciclos, que devem durar aquilo que efetivamente for benéfico para as instituições.

A saída de Portas é irrevogável?

Estou convencido que, face à decisão, não haverá no futuro um novo ciclo de liderança do CDS protagonizado por Paulo Portas.

Concorda com o modelo proposto para os debates quinzenais?

É uma decisão de Paulo Portas  com o líder parlamentar. Foi uma questão de gestão de quem tem competência para isso.

Admite que os debates se possam transformar numas primárias para o Congresso do CDS?

De maneira alguma. Aliás, há naquele grupo pessoas que assumidamente não serão candidatos.

Com a mudança de ciclo no CDS como fica a relação com o PSD?

Os dois partidos vão reunir os respetivos congressos em breve. E a relação entre CDS e PSD irá resultar daquilo que for decidido pelos seus militantes. CDS e PSD participaram solidariamente no governo, concorreram coligados às eleições de Outubro, ganharam as eleições. Portanto, penso que há todas as razões para que a defesa da governação seja feita permanentemente de forma solidária.

Que avaliação faz da campanha de Marcelo Rebelo de Sousa?

Confesso que tenho seguido pouco os debates, em virtude do trabalho no Parlamento. Mas conheço suficientemente bem Marcelo para não fazer depender da campanha a avaliação que faço da sua candidatura. Terá o meu voto.

Há quem o acuse de estar demasiado colado a António Costa.

As presidenciais são sempre assim: os candidatos mais à direita são acusados de se colarem mais à esquerda; e os candidatos mais à esquerda são acusados de se colarem à direita. Resulta do fato de serem candidaturas não partidárias e dos candidatos procurarem ter maior abrangência possível, fora da sua base de apoio inicial.

ricardo.rego@sol.pt