O praticante de karaté que deu o golpe nos exames

Tiago Brandão Rodrigues tornou-se um dos ministros mais em foco no Governo. A Ciência é a sua área, mas é na Educação que está a dar os primeiros passos na política.

O praticante de karaté que deu o golpe nos exames

O novo ‘Modelo integrado de avaliação externa das aprendizagens no Ensino Básico’, que acabou com os exames do 4.º ano de Nuno Crato, dominou o debate político a semana passada. No centro do ‘furacão’ está Tiago Brandão Rodrigues, o cientista que António Costa escolheu para ser o seu ministro da Educação. Mas afinal quem é este ‘jovem’ de 38 anos que está à frente de uma das pastas mais mediáticas da governação?

Tiago Brandão Rodrigues, natural de Paredes de Coura, é filho de dois funcionários públicos: o pai trabalhava na repartição de Finanças e a mãe era professora na escola primária. Com apenas 14 anos, deixou a casa dos pais para ir estudar para Braga. Concluído o secundário, seguiu para Coimbra. Depois de fazer o doutoramento em Bioquímica, decidiu emigrar. Esteve em Madrid, passou pelos Estados Unidos e mais tarde ‘aterrou’ em Inglaterra, para trabalhar no Cancer Research UK – onde veio a ser notícia em todo o mundo em 2013 pela investigação que desenvolveu na área da oncologia.

‘O miúdo mais genial de Coura’

«Na escola primária era o melhor aluno da turma, mas não era marrão. Estudava q.b.», lembra Sandra Carvalho, colega de Tiago Brandão Rodrigues até ao 9º ano. «Ele estava até à frente de alguns professores. Uma vez, já não me lembro se era na aula de inglês ou matemática, a professora disse uma asneirada muito grande, que só ele percebeu, mas como não se queria rir à frente da professora, atirou um lápis para trás das costas, para se poder virar e rir à vontade», conta.

«Ele era muito inteligente, humilde, simpático e super falador e comunicativo», afirma a sua colega da primária, que se recorda também do seu lado namoradeiro. «A partir para aí dos 13 anos era costume vê-lo namorar por trás do pavilhão da escola no intervalo das aulas», recorda entre risos.

«Desde pequeno que procurava o significado das palavras na Enciclopédia Luso-Brasileira», conta, por seu lado, Pedro Vieira, um dos seus vizinhos desde que nasceu e seu parceiro no Karaté. «Ele sempre absorveu a informação e o conhecimento de uma forma incrível e depois é muito organizado, persistente e obstinado», acrescenta. Numa entrevista que deu ao jornal i no verão passado, Tiago Brandão Rodrigues recorda que a enciclopédia era o seu Google. «Lia e tomava notas. Era fascinante. O que poderia parecer chato e enfadonho transformava-se em aventura», disse o então cabeça de lista do PS pelo distrito de Viana do Castelo.

João Carvalho, outro amigo desde os tempos de infância e hoje um dos sócios da Ritmos – empresa que organiza o Festival Paredes de Coura e o Primavera Sound no Porto –  não tem dúvidas em afirmar que «o Tiago era o miúdo mais genial de Coura». «Era uma pessoa que falava de tudo, de literatura a naves espaciais», acrescenta, para concluir que desde cedo se percebeu que «estava talhado para altos voos».

«A simpatia é a sua maior qualidade. Sabe o nome de toda a gente em Coura, adora falar com as pessoas e preocupa-se com os seus familiares», refere o promotor de espetáculos, garantindo que esta característica não mudou só porque agora é ministro. O empresário confessa até que já lhe disse que vai ter de gerir de forma diferente o seu relacionamento com as pessoas – quando vão na rua o Tiago fica sempre para trás para cumprimentar e falar com toda a gente.

«No Natal, ele estava a chegar a Coura quando se deparou com um acidente na estrada. Mandou parar o motorista e saiu do carro para ajudar a empurrar um dos carros acidentados, que por acaso até era de uma professora da vila. O Tiago é assim», conta João Carvalho.

O sócio da Ritmos destaca ainda o seu ‘fanatismo’ pelo desporto, apesar de não ter nenhuma preferência clubística. «Quanto tinha 12/13 anos, começámos a jogar futebol numa associação cultural de Coura. Ele nem ligava muito ao futebol, mas era o que mais corria e se esforçava dentro de campo. Sempre gostou de ganhar», afirma João Carvalho, que aponta ainda a sua «honestidade a toda a prova».

Vítor Paulo Pereira, atual presidente da câmara local, também eleito nas listas do PS, destaca a sua capacidade de relacionamento e de trabalho acima da média. «Além de ter uma inteligência acima da média, tem uma visão muito humanista e integrada dos assuntos. Tanto fala de medicina como do papel que determinada associação tem no contexto de Paredes de Coura», diz, salientando que ele «defende sempre as suas ideias com muita veemência e de uma forma ardente, racional e estruturada». Chega até a ser «teimoso», acrescenta.

O bichinho da política

Outra das características apontadas pelos vários amigos com quem o SOL falou é o facto de Tiago Brandão Rodrigues nunca ter bebido álcool mas ter sido sempre «o mais divertido nas festas».

«Essa é uma característica que toda a gente fala. Nas festas, em todo o lado havia sempre uma pessoa mais alegre e eufórica, que falava com toda a gente: Era o Tiago, que nem bebia. Ele é completamente abstémio», diz Vítor Paulo Pereira.

Na entrevista que deu ao jornal i, Tiago Brandão Rodrigues revelou que nunca sentiu «curiosidade».

«Não é nada dogmático. Nem é uma questão de saúde. A questão é que nunca senti nenhuma necessidade nem afinidade com o álcool. Nunca tive a necessidade de me desinibir para me integrar. Alguns amigos em Coimbra brincavam e diziam que tinha sido uma espécie de Obélix, que tinha caído no alambique quando era pequeno, e a partir daí não precisava», afirmou entre risos.

O autarca garante ainda que ele «teve sempre o bichinho da política» e que acredita que pode ser «um instrumento de mudança». «Quando me candidatei à câmara, ele veio de Londres e estivemos em minha casa a discutir o programa eleitoral», conta Vítor Paulo Pereira. Mas uma coisa é discutir política em casa, outra é assumir opções políticas no governo.

«Ele assumiu funções numa altura muito complicada do país, mas ele gosta de desafios e de testar as suas capacidades».

O facto é que antes das eleições ninguém imaginaria que viesse a assumir funções na área da Educação. E a ir para o governo seria para o Ministério da Ciência. «As pessoas dizem que a pasta da Ciência é de mais calmaria mas o desafio é igual nos dois ministérios».

Uma coisa é certa: independentemente do que vier a acontecer no Ministério da Educação, Tiago Brandão Rodrigues já é o orgulho dos courenses.

joao.despiney@sol.pt