Igreja diz que Bloco de Esquerda afrontou crentes

Para comemorar a aprovação da adoção gay, o Bloco de Esquerda fez um cartaz com a imagem de Cristo e a frase «Jesus também tinha dois pais». A Igreja admite que seja «provocação por causa da Quaresma». Marisa Matias já veio reconhecer «o erro».

O cartaz afinal não era bem um cartaz. Era só uma ‘coisa’ para as redes sociais. Foi mais ou menos esta a explicação do Bloco de Esquerda para responder à polémica que abriu – principalmente nas redes sociais – com a decisão de comemorar a vitória na aprovação da lei da adoção gay com a imagem de Jesus Cristo e a frase «Jesus também tinha dois pais».  Marisa Matias, eurodeputada e candidata às presidenciais, assumiu mesmo que a ideia «foi um erro». «Acho que saiu ao lado da intenção que se pretendia. Que foi um erro», escreveu na sua página do Facebook, em resposta a uma cidadã que lhe perguntou o que pensava do assunto.

A justificação oficial do Bloco dava toda uma tese sobre a teoria do ‘espaço público’ e, ao contrário de Marisa Matias, não reconhece o erro. O comunicado dos bloquistas garante que só um cartaz – esse inócuo – foi afixado na rua. «Esse é o único cartaz que o Bloco imprimiu e que afixará publicamente», afirma o partido. 

Outra coisa, justifica o BE, é a «imagem nas redes sociais» que causou grande polémica. «Na mesma ocasião, foi colocada nas redes sociais uma imagem sob a frase ‘Jesus também tinha 2 pais’. Não se trata de um cartaz, mas da forma de, nas redes sociais, com recurso ao humor, chamar a atenção para a conquista da igualdade entre todas as famílias. A frase, de resto, não é da autoria do Bloco, sendo um velho slogan do movimento internacional pela igualdade de direitos». No comunicado, o Bloco anexa exemplos em inglês e francês. 

O Bloco de Esquerda aproveita também para afirmar que não quis pôr em causa os católicos: «O Bloco de Esquerda respeita todas as convicções religiosas. Com esta iniciativa, pretendeu contribuir, como sempre fez, para, sem tabus, provocar o debate e, neste contexto, assinalar mais um avanço no respeito pela dignidade das pessoas e por todas as famílias. Estamos certos de encontrar, entre crentes e não crentes, uma grande maioria que partilha connosco esta motivação», lê-se no comunicado do partido.

O assunto incendiou as redes sociais e foi criticado mesmo dentro do Bloco. 

A Igreja teve uma reação violenta. O porta-voz da Conferência Episcopal, Manuel Barbosa,  classificou o cartaz como uma «afronta aos crentes que seguem Jesus Cristo e os que são da Igreja, naturalmente».

‘Uma analogia sem sentido’

«Deve haver respeito pela liberdade de expressão. Sabemos que esse respeito deve ser sempre um respeito mútuo. A liberdade implica sempre relação e corresponsabilidade, e este respeito mútuo não sei se estará presente no anúncio deste cartaz», afirmou o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, para quem o cartaz da polémica é «uma analogia sem sentido».

«Essa dos pais espirituais é abusiva. Penso que há um certo aproveitamento, num período em que na igreja se está a viver um tempo forte de Quaresma, depois a Páscoa e o Ano da Misericórdia. Não sei se é coincidência ou se é propositado», disse o padre que depois tentou desdramatizar reconhecendo que o cartaz «vale o que vale» e «há coisas mais importantes». «É de lamentar que não se tenha em atenção as convicções de quem segue Jesus Cristo, mesmo que este cartaz já tenha sido feito noutros países. É uma cópia de muito mau gosto».