António Capucho: “Com Rio ou José Eduardo Martins pedia a minha readmissão ao PSD”

António Capucho, ex-secretário-geral do PSD, de 71 anos, diz que está a ser pressionado para voltar a candidatar-se à Câmara de Cascais e explica a «aproximação natural ao PS», «um partido social-democrata».

Tem vontade de regressar à política ativa?

Tenho vontade de ter uma ocupação útil, que pode traduzir-se num empenhamento na vida política autárquica.

Isso quer dizer que pode candidatar-se à Câmara de Cascais com o apoio do PS?

Como lhe digo, embora com 71 anos, ainda me sinto disponível par dar um contributo e ter uma atividade útil à vida política ou a nível das instituições de solidariedade social. Como tenho feito nos últimos 40 anos.  

Em Cascais…

Eu moro aqui, sempre morei aqui, estou intimamente ligado a Cascais. É verdade que estou a ser pressionado por vários grupos de cidadãos independentes e por partidos políticos, mas não quero tomar ainda uma decisão.

Do que é que depende uma eventual candidatura?

Está dependente de conseguir ter equipa, ter programa e de ter apoios. Se isso se reunir, e eu tiver essa vontade, admito essa hipótese. Admito como uma hipótese possível, mas não me deito a pensar nisso.

Gostou de ter sido autarca depois de ter ocupado vários cargos na política nacional?

Fui durante dez anos presidente da Câmara de Cascais, com três maiorias absolutas superiores a 50%. Acho que fiz obra, acho que deixei obra, a prova disso é que fui sempre reeleito com uma maioria significativa, e foi o cargo que mais me entusiasmou na vida política, na justa medida em que foi aquele em que estive mais próximo dos cidadãos. Admito que sim, mas tenho condicionantes. Uma delas, que não posso negar, é a própria idade.

Tem sido criticado por se ter aproximado do PS depois de ter tido um papel importante no PSD. O que é que levou a essa mudança?

Essa aproximação foi natural. O PSD largou a matriz social-democrata desde que Passos Coelho foi eleito. Qualquer semelhança entre este partido e a social-democracia é pura coincidência. Por outro lado, em termos ideológicos, a minha aproximação ao PS é natural, porque temos um PS que é um partido social-democrata.

O que o PSD diz é que a troika impôs um afastamento da social-democracia.

É mentira. A verdade é que o PSD foi muito para além da troika. O PSD desapareceu como partido. Lamento muito, mas não existe como partido de bases, de militantes…

Isso aconteceu com Passos Coelho?

Acentuou-se com Passos Coelho. Foi um processo progressivo. Eu não pretendia que o PSD hoje tivesse as características de 1974 ou 1980, em que os militantes quase que viviam nas sedes, pois havia debates quase diários, mas o PSD descaracterizou-se completamente. Pergunto se alguma sede tem atividade e quem é que está nas sedes?

Como se deu essa aproximação ao PS?

Não há nenhuma aproximação ao PS. A única coisa que eu fiz foi olhar para as candidaturas ao Parlamento Europeu e perceber que aquela em que eu me revia era a do Francisco Assis. Tinha admiração por ele, confiava na equipa e disse-lhe: «vou votar em si». Tomei um pequeno-almoço com ele. E a mesma coisa com o António Costa. Olhei para as candidaturas e verifiquei que não tinha alternativa a votar no PS.

Mas o PSD ganhou as eleições em coligação com o CDS.

Sim. É um facto. O PSD tem os seus méritos em termos de marketing político.

Isso mostra que os portugueses entenderam o discurso de que não há alternativa à austeridade?

Os portugueses perceberam que a palavra austeridade é uma palavra que nos vai acompanhar nos próximos tempos, porventura até aos meus netos. Nós sabemos que temos uma dívida brutal e temos de ter políticas restritivas e de grande rigor orçamental. Os portugueses sabem isso, mas sabem também que a forma como a austeridade foi conduzida foi através de uma dose cavalar. E isso tendia a matar o doente com a cura. Ou seja, a terapêutica do rigor orçamental vai continuar a acompanhar-nos, mas a dose tem de ser bem pensada para não matar a economia e não afogar a classe média.

Isso está a acontecer com este governo

É muito cedo para avaliar.

É favorável á solução encontrada por António Costa para governar o país?

Eu não defendia esta solução. Defendia o Bloco Central, porque entendo que o país necessita, neste momento, de concretizar as reformas estruturais que são inadiáveis.

O novo Presidente da República pode ajudar o Governo?

É um enorme fator de estabilidade. Tem capacidade, competência e inteligência para conseguir consensos. É uma pedra bem colocada no tabuleiro político.

Marcelo pode condicionar Passos Coelho?

Já está a condicionar o PSD. Primeiro tiveram que acertar o discurso. O Marcelo era uma besta e passou a ser bestial. E depois tiveram que simular esta viragem à social-democracia.

Ficou surpreendido por Passos Coelho ter continuado à frente do PSD? 

Neste momento tudo joga a favor dele. Teve um resultado honroso.

Foi expulso do PSD há dois anos. Gostava de voltar ao partido?

Claro que sim, claro que sim, mas a este PSD não voltarei. Não tenho qualquer identificação com a estrutura, com os métodos e com a política. Mas, apesar da minha idade, tenho alguma expectativa de que o PSD possa, um dia mais tarde, encontrar os caminhos que lhe são próprios e possa regressar à matriz social-democrata.

Regressaria com outra liderança? Imagina alguém?

Não vá mais longe. Rui Rio, Manuela Ferreira Leite ou José Eduardo Martins, só para citar alguns: não tenho dúvida nenhuma de que, se liderassem o partido,  retomariam a matriz social-democrata. Nessa altura, não teria a mínima dúvida em pedir a minha readmissão.

Agrada-lhe a hipótese de José Eduardo Martins ser candidato á liderança do PSD?

Eu gosto do José Eduardo Martins. É alguém que tem substância política e está numa idade ótima, mas há outros.

Rui Rio parece  estar mais hesitante…

Ele está muito contente com o que tem, mas se as coisas se proporcionarem, se houver um apelo das bases, ele já disse que admite essa hipótese.