Durão barroso é exceção ou regra?

O português que liderou a Comissão Europeia durante 10 anos vê-se despido de privilégios por ir para o setor privado, na Goldman Sachs. Mas outros fizeram o mesmo.

Quando o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou que José Manuel Durão Barroso iria deixar de ser recebido em Bruxelas como ex-presidente da Comissão, passando a ser somente tratado como lobista ou «representante de um  interesse», as vozes no PSD levantaram-se em indignação.

Luís Montenegro, líder da bancada social-democrata, acusou as instituições  europeias de montarem um «espetáculo» que não abona a seu favor.

Duarte Marques, coordenador do PSD para os Assuntos Europeus, afirmou ao SOL que a diferenciação de tratamento em relação a Barroso por parte de Juncker pretende «agradar à extrema-esquerda»  e «salvar a pele» do atual líder da Comissão, que está «fragilizado pelo caso do Luxleaks e não só».

O deputado social-democrata afirma ainda: «A discriminação de Durão Barroso viola todas as regras estabelecidas pela Comissão Europeia sobre transparência porque nada o obriga a ter que ser registado como lobista. É presidente não executivo de um banco, o que é bem diferente, e sempre que for recebido na Comissão para tratar de assuntos relacionados com a empresa isso fará parte do registo público. Quando António Mexia, ou o presidente da Greenpeace, vão a Bruxelas passa-se exatamente o mesmo». Para Duarte Marques, Durão «não pode ser nem  beneficiado nem prejudicado por ter estado na Comissão, tem que ter o mesmo tratamento, por exemplo, que António Vitorino continuou a ter».

Barroso reagiu e escreveu a Juncker:  «Estas iniciativas parecem ser inconsistentes em relação a decisões relativas a antigos membros da Comissão». O eurodeputado Paulo Rangel dá os exemplos de «Mario Monti, Romano Prodi, Nellie Kroes e tantos outros, que após um período de nojo foram para atividades privadas e, nalguns casos, na mesma empresa em que está Durão Barroso, e não houve nenhuma destas reações».

Juncker esclareceu que Barroso cumpriu todas as normas. «O problema é ser o Goldman Sachs», disse. A Comissão Europeia já se havia pronunciado sobre a ida do português para o polémico banco de investimento, considerando-a dentro do quadro da legalidade. No entanto, Jean-Claude Juncker terá requisitado um novo parecer depois de um pedido de de esclarecimento por parte da provedora de justiça da União Europeia. Esta afirmou que «é o interesse público que está em causa».

Em julho, François Hollande, o presidente francês, considerou a opção profissional de Barroso como «moralmente inaceitável». Fonte próxima de Barroso ironiza: «A França é cliente da Goldman Sachs. No dia do Brexit tiveram ministros a convidar bancos de investimento a mudarem-se para Paris. Isto é de rir».