A Caixa foi privatizada e o Governo não avisou

Uma das bandeiras de Pedro Passos Coelho quando chegou a líder do PSD – aliás, antes mesmo de chegar – era a privatização da Caixa Geral de Depósitos. Passos Coelho defendia que não era necessário a existência de um banco público, assim como dispensava a maioria das coisas públicas (lembram-se da RTP?). Com o tempo,…

Uma das bandeiras de Pedro Passos Coelho quando chegou a líder do PSD – aliás, antes mesmo de chegar – era a privatização da Caixa Geral de Depósitos. Passos Coelho defendia que não era necessário a existência de um banco público, assim como dispensava a maioria das coisas públicas (lembram-se da RTP?). Com o tempo, a ideia da privatização total foi deixada cair pelo líder do PSD. Argumento: não tinha medido convenientemente o peso simbólico da ‘Caixa’ no imaginário nacional. Os portugueses sentiam-se seguros por terem o dinheiro na ‘Caixa’, por receberem os salários através da ‘Caixa’. A ‘Caixa’ não era só um banco, era um símbolo patriótico e de segurança e, logo, não poderia ser privatizada. Mais tarde, Passos Coelho virá a defender apenas uma «privatização parcial». Depois, acabou por privatizar apenas a área de seguros da Caixa, a Fidelidade, vendida aos chineses da Fosun.

O PS, com António José Seguro ou com António Costa, foi sempre um feroz opositor da privatização da Caixa Geral de Depósitos. A valorização do banco público sempre esteve no programa socialista – embora não tenha sido executado por anteriores governos socialistas, como o de José Sócrates, que rebentaram como puderam com a Caixa. Mas não era do PS, e muito menos de um PS que deve a sua existência no Governo ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português que viesse uma privatização. Infelizmente, é isso que está a acontecer. A Caixa foi privatizada, mas ninguém nos avisou. Por exigência do Banco Central Europeu por causa da recapitalização – ou seja lá por que for – a verdade é que a Caixa Geral é hoje uma entidade privatizada, com um gestor ‘privatizado’ que cumpre as regras de opacidade possíveis nas empresas privatizadas. 

Não se trata exclusivamente do salário escandaloso do presidente da CGD, António Domingues. Se for verdade, como sustenta o Ministério das Finanças (mas aparentemente o primeiro-ministro não) e vários juristas que o decreto de verão poupa aos gestores da Caixa o incómodo da transparência devida pelos gestores da coisa pública ao povo, estamos perante um caso de vergonha nacional. 

Ao mesmo tempo que Domingues recebe o seu salário milionário acrescido de prémios, prepara-se para um despedimento em massa dos trabalhadores da Caixa. Chamem-lhe o que quiserem, mas cortar trabalhadores é despedimento, é dizimar postos de trabalhos. Alguém privatizou a Caixa e não nos avisou. Mais valia ter avisado.