O que pode um homem cercado fazer?

A vida de Pedro Passos Coelho tem sido um calvário desde que perdeu o cargo de primeiro-ministro por causa de uma coisa que nunca tinha acontecido – um acordo entre o PS que tinha sido menos votado que a coligação PSD/CDS e os partidos à sua esquerda. 

É verdade que Passos Coelho, mesmo tendo perdido a maioria absoluta, tinha superado, e em muito, as expectativas eleitorais tendo em conta os cortes a que sujeitou o país. O suposto normal era que o PS tivesse conseguido maioria absoluta nas urnas. Não só não conseguiu maioria absoluta como nem conseguiu maioria. Foi por causa do risco de perder as eleições que o povo socialista substituiu António José Seguro por António Costa. No fim, António Costa acabou por fazer uma campanha eleitoral patética e o eleitorado apostou no que já conhecia.

É natural que depois do que aconteceu, Passos Coelho tenha entrado numa fase daquilo a que poderíamos chamar ‘depressão política’. Costa foi derrotado nas urnas, mas saiu vencedor ao conseguir mobilizar a maioria parlamentar para apoiar o seu Governo. E à frente do Governo, Costa revelou-se um milhão de vezes mais arguto e capaz do que como candidato. Mesmo com todas as dificuldades e exigências europeias, tem conseguido a quadratura do círculo: contentar a Europa e contentar os parceiros de esquerda. Ao ter o apoio da CGTP, a mais poderosa central sindical, o Governo goza de uma coisa que nenhum gozou antes dele – a chamada paz social. 

O problema de Passos Coelho foi ter apostado todas as fichas da sua narrativa oposicionistas em como as opções políticas do Governo falhavam. E, até agora, não falharam. Passos acenou com a iminência de um alegado segundo resgate e ele não veio. É uma posição trágica para um líder da oposição o seu sucesso estar dependente de uma nova implosão do seu país. 

Passos perdeu o discurso e o ânimo. Arrasta-se. Infelizmente, já ninguém o ouve, como as sondagens refletem. O PSD voltou aos tempos de antigamente. Como não gosta de perder, está à procura de um ganhador. Mas na realidade não se sabe ainda bem quem será esse ganhador. E também é verdade que um homem cercado pode refugiar-se nas trincheiras e esperar que os inimigos gastem as munições, se forem mais fracos do que ele.