Subida dos juros nos EUA leva euro a negociar em mínimos de 14 anos

Apesar de ser uma medida já esperada, analista contactado pelo i acredita que a moeda única europeia vai continuar a registar novos mínimos

A moeda única europeia recuou ontem para um nível mínimo de quase 14 anos depois de a Reserva Federal norte-americana (Fed) ter aumentado as taxas de juros e anunciado mais subidas ao longo do próximo ano. E esta tendência de queda por parte do euro não deve ficar por aqui e deverá continuar a registar novos mínimos, admite ao i o gestor da corretora XTB, Tiago da Costa Cardoso.

“Ao fim de 12 meses, a FED voltou a subir as taxas de juro. Esta era uma medida esperada pelo mercado, sendo que a única surpresa foi mesmo a divulgação da expetativa de Yellen para 2017”, alerta o analista, acrescentando ainda que esta decisão “impulsionou a moeda norte-americana que ganhou ainda mais força, face ao que já tinha descontado o mercado e o par cambial euro/dólar fez mais um mínimo anual. O dólar contínua fortíssimo, sendo que deverão ainda registar-se novos mínimos”.

Recorde-se que a autoridade liderada por Janet Yellen anunciou esta quarta-feira uma subida do preço do dinheiro nos EUA para o intervalo entre 0,50% e 0,75%, o que correspondeu a um aumento de 25 pontos base.

Uma decisão que veio pressionar o euro. Neste momento, a taxa de juro na zona euro encontra-se no mínimo histórico de 0%, não se prevendo, para já, alterações.

A política monetária do Banco Central Europeu (BCE) deverá manter-se inalterada nos próximos meses. E essa tendência é visível pela decisão do banco central em prolongar o programa de compra de ativos até, pelo menos, no final do próximo ano, quando a estimativa apontava para que terminasse em março. Ao mesmo tempo, o BCE revelou que, a partir de abril, o montante total das compras descerá de 80 mil milhões de euros mensais para 60 mil milhões.

Juros e mercados

A decisão por parte da Fed levou a uma subida dos juros da dívida pública de vários países da zona euro. E a dívida portuguesa não escapou a esta valorização. A dez anos, as “yields” avançam 4,9 pontos base para 3,824%.

No caso das obrigações italianas negociadas no mercado secundário, os juros somam 5,1 pontos base para 1,846%. E as espanholas ganham 5,5 pontos base para 1,456 %. A dívida alemã, considerada muitas vezes como ativo de refúgio, cresce 6,4 pontos base para 0,365%.

Também os mercados bolsistas foram influenciados por esta decisão. A bolsa portuguesa encerrou a sessão desta quinta-feira a ceder ligeiros 0,04% para 4597,60 pontos, com sete cotadas a negociar em queda, naquele que foi o segundo dia consecutivo a transacionar em terreno negativo.

A bolsa lisboeta veio assim contrariar a tendência predominante na generalidade das principais praças do Velho Continente que negociaram em alta. Um comportamento semelhante ao das praças norte-americanas que seguiram a sessão de ontem a negociar no verde. Uma tendência oposta à que se verificou na quarta-feira, assim que foi anunciado o aumento dos juros, com os títulos financeiros a pressionarem, uma vez que são estes que por norma reagem com maior prudência a uma subida dos juros.