«Não deixo cair os amigos». A resposta de Mário Soares às acusações de Pacheco Pereira após uma visita ao ex-primeiro-ministro italiano Bettino Craxi, em 1995, condenado a 14 anos de prisão por corrupção e fugido em Tunes. Ideia que tem mantido ao longo dos seus 92 anos de vida e são vários os exemplos de como suspeitas de crimes ou até mesmo penas de prisão não eram motivos suficientes para retrair o ex-líder socialista.
Na altura, a visita a Craxi ocorreu durante uma visita de Estado à Tunísia, quando era Presidente da República. Um «encontro fraterno», descreveu o histórico do Partido Socialista italiano, segundo o El País, mas que provocou uma onda de polémica e indignação em Portugal. Pacheco Pereira, na altura líder parlamentar do PSD, afirmou tratar-se de uma «atitude ilegítima e injustificada».
Mais recente na memória dos portugueses estão as diversas visitas a José Sócrates, não só no Estabelecimento Prisional de Évora, no final de 2014, como à rua Abade Faria, em Lisboa, tendo sido o primeiro político a visitar o ex-primeiro-ministro quando foi libertado, após nove meses de prisão preventiva.
Em declarações exaltadas após a primeira vista à prisão, Soares disse acreditar na inocência do socialista, indiciado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, afirmando que Sócrates estava a ser vítima de uma campanha infame. «Têm feito uma campanha contra ele que é uma infâmia. [Não] É a comunicação social que faz, mas são os tipos que estão por trás dela», afirmou o ex-chefe de Estado, no dia 26 de novembro.
Descrevendo-o como um «homem digno» e um «primeiro-ministro exemplar», Soares classificou a situação como um «caso político». E apesar de referir que a situação nada tinha «a ver com os socialistas», afirmou que «todo o PS está contra esta bandalheira».
Em janeiro de 2015, num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias, o fundador do PS chegou mesmo a desafiar Cavaco Silva a pronunciar-se sobre o caso Sócrates. No texto intitulado ‘O meu amigo Sócrates’, o antigo Presidente da República considerou «inaceitável e infame» não haver «uma única prova contra um homem que tantos serviços prestou a Portugal». «Porquê? Porque não há justiça em Portugal infelizmente e o Presidente da República, que devia ser responsável por Portugal, nunca ter dito uma palavra sobre o caso Sócrates. Quanto mais não seja pela flagrante violação do segredo de justiça».
Uma amizade de 30 anos
Mário Soares também visitou Ricardo Salgado, quando o antigo bancário estava em prisão domiciliária, indiciado por suspeita de crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, falsificação informática, branqueamento, fraude fiscal qualificada e corrupção no setor privado.
Foram várias as ocasiões em que o antigo Presidente da República defendeu o ex-presidente do BES, após o colapso do banco. «O BES não faliu. Foi forçado a desaparecer pelo Banco de Portugal. Hoje sabemos que com o apoio do Governo de Portugal liderado pelo Dr. Pedro Passos Coelho», disse ao i.
A amizade entre o histórico socialista e o ex-presidente do BES vem desde os anos 80. Foi o fundador do PS que ajudou a família Espírito Santo a regressar a Portugal, após anos no exílio no Brasil.