​Claro que Costa tinha que ir ao funeral

É ultrajante que o “pai da democracia” não tenha o primeiro-ministro presente nas suas cerimónias fúnebres.

O sr. primeiro-ministro, António Costa, informou que não estará presente nas cerimónias fúnebres de Mário Soares. O primeiro-ministro regressa na quinta-feira da sua visita de Estado à Índia e o funeral será na terça-feira.

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros que acompanhava Costa na viagem, regressa a Portugal de modo a comparecer. António Costa fica. E fica mal.

Mário Soares é o fundador do Partido Socialista, de que Costa é hoje secretário-geral, Mário Soares é o maior responsável pela transição democrática do pós-25 de Abril contra os totalitarismos do Partido Comunista, Mário Soares é detentor da maior maioria absoluta da história das eleições-livres portuguesas.

Mesmo que de maiorias Costa entenda pouco, que de defender a democracia de comunistas Costa entenda ainda menos, é um desplante que Portugal não veja o seu primeiro-ministro nas cerimónias de despedida de Mário Soares.

Soares não pode ter sido irmanado ao Estado durante uma vida inteira para ser descartado por uma visita de Estado depois de falecer. Desde que o ex-presidente da República entrou lamentavelmente em coma, no hospital da Cruz Vermelha, que as instituições se iam preparando para a perda. Qual é o governo que prossegue com uma visita de Estado do outro lado do planeta, quando o fim estava tão perto? Qual é o primeiro-ministro que abdica de ir à última homenagem do pai do seu partido, enviando um ministro como suplente? Se Pedro Passos Coelho ficasse numa das suas viagens de 'diplomacia económica' em vez de marcar presença no funeral de Mário Soares, qual seria a reação?

De repente, todos os fãs da presidência sem protocolo são os maiores institucionalistas no que toca a visitas de Estado. O grau de impunidade de António Costa era conhecido e esta semana tornou-se histórico. Historicamente ridículo.