Isto a propósito da nova emissão de dívida a dez anos, na semana passada, dívida essa que foi colocada a 4,23%, e do spread (diferencial) das nossas taxas de juro a dez anos para as taxas de juro alemãs com a mesma maturidade, que estavam a 11 de janeiro a 3,74% (desde então devem ter descido uns pozitos). O raciocínio de Maria Luís Albuquerque é que, como esse spread tem vindo sempre a aumentar, se nos tivéssemos endividado com o spread de há um ano atrás, emitir esta dívida a dez anos ter-nos-ia ficado mais barato.
Que eu tenha visto, só o “Jornal Económico” deu destaque às declarações de Maria Luís Albuquerque: para os sites dos outros jornais a história não existiu. Não liguei a TV hoje, por isso não sei que destaque foi dado a esta notícia (se algum). Assim, fui ver os spreads, e a conclusão é que Albuquerque tem apenas parte da razão, pois os spreads começaram a subir quando ela ainda era ministra das Finanças.
O valor mais baixo que encontrei foi a 15 de março de 2015, de 1,4%. A partir daí, foi sempre a subir: os 2% foram ultrapassados (2,22%) a 30 de junho desse ano (ainda com governo PSD/CDS), os 3% foram transpostos (3,37%) a 9 de fevereiro de 2016, e cifraram-se em 3,74% a 11 de janeiro de 2017.
Portanto, o governo PS apanhou uma tendência de subida dos spreads que não conseguiu inverter, e as declarações de Albuquerque mostram que ela tem uma memória muito seletiva. A subida dos spreads continuou, mas desacelerou.
Ainda assim, Albuquerque tem razão no essencial: o governo PS tem de ser o executivo da disciplina financeira, sob pena de os spreads subirem mais, prejudicando a economia nacional. Isto se não derem um pulo quando o Banco Central Europeu deixar de comprar dívida pública portuguesa. Mas isso já não está nas nossas mãos.
