Vítor Martins pensou em sair da Caixa devido à transferência do fundo de pensões

Revelação foi feita pelo ex-administrador da CGD na comissão de inquérito.

O antigo administrador-geral da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Vítor Martins revelou que ponderou deixar a liderança do banco estatal devido à transferência do fundo de pensões para a Caixa Geral de Aposentações (CGA). Na altura, Bagão Félix liderava a pasta das Finanças.

"Houve o momento em que o governo decidiu a passagem do Fundo de Pensões da CGD para a CGA. O pedido de demissão que ponderei apresentar na altura deveu-se a isso", revelou durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público.

"Quando eu cheguei à CGD no princípio de outubro [de 2004], já estava em cima da mesa do governo [à data liderado por Pedro Santana Lopes] essa transferência. Já havia uma reação na CGD, nomeadamente, da Comissão de Trabalhadores (CT), manifestando-se contra", sublinhou Vítor Martins.

Vítor Martins esclareceu também que, na altura, o conselho de administração teve conversas com a CT e, como a decisão que o governo se preparava para tomar na altura era a transferência parcial do fundo até 1991, "houve um entendimento que o racional dessa transferência parcelar até 1991 tinha alguma lógica, e entendeu-se que essa transferência era feita em moldes que não afetava os trabalhadores", esclareceu aos deputados.

Razões da desistência

Além da ausência de prejuízos para os direitos dos trabalhadores da CGD também concluiu que não teria consequências para a própria Caixa, levendo-o a desistir da ideia de sair da liderança do banco. "Não haveria impacto material para a CGD, porque o provisionamento que foi feito para assegurar as responsabilidades foi feito através de um aumento de capital que o acionista assumiria. E estava praticamente concluída a reestruturação da CGD", acrescentou.

"Também pensámos que a saída do CA naquela altura ia apenas somar uma outra tensão e incerteza à decisão que o Governo tinha tomado. O ministro das Finanças da altura, quando lhe falei dessa possibilidade, disse-me que a decisão era do Governo, tomada em nome do interesse nacional, [devido às contas públicas], não visava o CA da CGD e assegurava os direitos dos trabalhadores. Tudo isto me levou a ponderar que a decisão correta era prosseguir com o nosso mandato", rematou.