15,5% de corajosos

São conhecidos os resultados da OPA do catalão La Caixa sobre o BPI: o La Caixa, que já tinha 45,5% do banco português, ficou com mais 39%, num total de 84,5%. 

Houve pois 15,5% de acionistas que não venderam, pelo que se conformarão a ter o La Caixa a tomar todas as decisões, beneficiando apenas da esperada valorização dos títulos e dos dividendos que a seu tempo serão distribuídos. Entre esses acionistas minoritários estou eu. Comprei ações do BPI de propósito para ficar com elas nos próximos anos.

Comprei as ações, e não as vendi na OPA, por duas razões. Primeiro, o preço oferecido pelo La Caixa não foi muito atrativo, situando-se no limite mínimo do aceitável. As ações do BPI têm assim bastante espaço de subida. Mas, em segundo lugar, a oferta do La Caixa tem um aspeto muito positivo: não envolve troca de ações do Caixa Bank (a filial onde o La Caixa agrupa as suas participações, sendo a sociedade que lançou a OPA) por ações do BPI; antes, ofereceu dinheiro pelas ações do BPI.

E porque é que este aspeto é muito positivo? Porque, quando a empresa A quer comprar a empresa B emitindo ações para o efeito, está a dizer aos acionistas de B algo como: “Nós compramos-te, mas não estamos inteiramente seguros do que estamos a fazer; por isso, ficas como acionista da nova empresa”. Pelo contrário, numa oferta em dinheiro, o oferente passa a seguinte mensagem: “Nós gostamos muito da vossa empresa, por isso queremos ficar com ela na totalidade: oferecemos dinheiro, ficamos com a vossa sociedade, e vós ides à vossa vida”.

E foi isso que se passou com o BPI. O banco foi o primeiro banco português a pagar o empréstimo à troika, e já é lucrativo. Agora, fundindo operações com o La Caixa (o que passa, infelizmente, pela redução de pessoal em 900 pessoas) os custos irão descer e o banco ficará mais eficiente. Terá uma política generosa de distribuição de dividendos (talvez já a partir de 2018) para pagar ao Caixa Bank o investimento na sua própria compra. E, como o Caixa Bank não atingiu os 90% do capital, não pode lançar uma OPA potestativa (obrigatória).

Em suma, estou muito otimista em relação ao BPI, banco de onde têm saído quadros para ocuparam posições de relevo (Cristina Casalinho está há anos a chefiar o IGCP, António Domingues foi para CEO da Caixa Geral de Depósitos e, embora tenha estado lá pouco tempo, deixou pronto o plano de reestruturação que agora Paulo Macedo vai aplicar). A gestão do BPI é de ótima qualidade. Se tiver algumas centenas de euros disponíveis, pode, se quiser, comprar algumas ações, enquanto estão baratas, e esperar depois alguns anos para as vender.