Irmãos detidos na Guarda tinham pistolas, 90 munições e um punhal

PJ vigiava há três semanas os dois irmãos luso-descendentes que há três meses se instalaram na aldeia de Malhada Sorda, em Almeida. Não há indícios de que estejam ligados a grupos radicais islâmicos

Duas armas de guerra de calibre 9 mm, um silenciador, 90 munições e um punhal semelhante aos que são publicitados nas imagens de execução de reféns ocidentais pelo Estado Islâmico: foi este arsenal que a Polícia Judiciária apreendeu aos dois irmãos lusodescendentes que há alguns meses estariam instalados na aldeia de Malhada Sorda, em Almeida, e que foram detidos na passada quarta-feira para interrogatório. Não há, por agora, qualquer indício de que estejam associados a grupos radicais de matriz islâmica.

O facto de, nas buscas, ter sido apreendido um exemplar do Corão, segundo a Polícia Judiciária da Guarda que investiga o caso, não os torna, por si só, suspeitos de terrorismo. E pelas informações internacionais já recolhidas, os únicos antecedentes conhecidos dos irmãos Regueiró ficam-se por crimes contra o património, como furtos.

Em Portugal não há registo de ilícitos, mas a PJ não descarta a hipótese de os irmãos terem escolhido o país para retiro depois de cometerem um crime no estrangeiro. Presentes a juiz na sexta-feira passada, os dois irmãos ficaram a aguardar julgamento em liberdade, com a proibição de se ausentarem do país e com apresentações diárias na GNR. 

Investigação leva três semanas

O alerta foi dado há cerca de três semanas. Um dos irmãos, José Alberto Regueiró, 29 anos, entra madrugada fora nas urgências do hospital da Guarda com um projétil de uma bala numa perna. O hospital, como é regra, comunica o caso às autoridades. É a história singela que José narra sobre o acidente que deixa muitas reservas à PJ. Segundo ele, por volta de meia-noite passeava o cão quando escutou um barulho e, simultaneamente, apercebe-se de que fora atingido. O outro irmão, Olivier Regueiró, 22 anos – que com ele veio de Paris, para onde os pais tinham emigrado na década de 80 –, é quem conduz o ferido ao hospital, apesar de não ter carta de condução.

Os elementos da PJ não engolem o enredo, pedem informações aos congéneres internacionais e trazem-nos debaixo de olho. De barba jihadista, fatos de treino, o perfil dos homens levanta suspeitas. Mas nada os ligava às fileiras do Estado Islâmico. Crimes praticados em França levaram os investigadores, na passada quarta-feira, a montar buscas ao casebre sem condições na propriedade da família de emigrantes onde os irmãos Regueiró se alojaram.

José e Olivier tinham entrado há três meses em Portugal, cada um ao volante do seu carro, e é num deles que as autoridades apreendem o livro sagrado dos muçulmanos. E em casa, além das armas, 500 euros em notas.

José, o mais velho, acabou por admitir que há quatro anos se convertera ao islamismo, mas negou qualquer envolvimento com grupos extremistas. E assumiu também que o tiro que o levou ao hospital foi autoinfligido – um acidente compatível com os vestígios deixados numa das armas, que estava enrolada num pano com salpicos de sangue. A investigação continua, a PJ está na pista da origem das armas e já as enviou para o Laboratório de Polícia Científica para confirmar se já estão referenciadas noutros crimes.