Centeno: o essencial e o acessório

Não votei em Marcelo Rebelo de Sousa, mas fiquei aliviado quando o ouvi dizer que, por ele, o caso das SMS entre Mário Centeno e António Domingues “está encerrado”.

A oposição parlamentar, julgando ter descoberto um importante ponto fraco, não pensa da mesma maneira, e vai criar uma nova comissão de inquérito no parlamento, onde António Domingues não deverá ter qualquer problema em divulgar as SMS em causa, e ficaremos finalmente a saber se Centeno está ou não a mentir, o que é positivo.

Centeno diz que não mente, mas que pode ter havido um “erro de perceção mútuo” na questão na obrigatoriedade de Domingues e a sua equipe terem de divulgar as declarações de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional.

Vamos admitir o pior dos cenários: que Centeno deu de facto a Domingues uma garantia que este não teria de entregar ao TC qualquer declaração de rendimentos e património pelo que nos está a mentir. Marcelo disse uma vez, a propósito de Sócrates, que é “difícil manter um mentiroso como primeiro-ministro”. E manter um ministro das finanças? Bem, aí já é mais fácil, por duas razões. A primeira é que Marcelo não pode demitir Mário Centeno; pode, contudo, demitir o governo, mas ele quer que o executivo dure toda a legislatura, até 2019.

A segunda, e essencial, razão, é que a equipa de Centeno no ministério das finanças está a obter bons resultados: o PIB está a crescer razoavelmente, a dívida pública já está a descer com os reembolsos antecipados ao FMI, e o desemprego está a diminuir – embora muito elevado, já caiu significativamente. Ora, em equipa que ganha não se mexe. Centeno coordenou o programa eleitoral no campo económico do PS, e agora está a aplicar esse mesmo programa, com sucesso.

Eu acredito que ele não seja um mentiroso, e que continuará a fazer o bom trabalho que tem feito à frente do ministério das finanças. Portugal não pode desperdiçar talentos excecionais como Centeno.