Big Show Marcelo. Quando um Presidente inaugura um estúdio de TV

Com honras de estrela e à-vontade televisivo, Marcelo voltou ao lugar onde foi feliz. “É mais fácil ser comentador do que Presidente”, confessou, num momento que aproveitou para voltar a explicar porque segurou Centeno e para garantir que não fala de tudo

Big Show Marcelo. Quando um Presidente inaugura um estúdio de TV

Como num reality show, Marcelo Rebelo de Sousa foi filmado a entrar nos estúdios da TVI e desfilou pelos corredores com o à-vontade de quem está em casa, reparando nas mudanças feitas na estação de Queluz. Não é todos os dias que um novo estúdio de televisão é inaugurado por um Presidente da República que comenta em direto os comentadores que o analisam e ainda se mostra disponível para responder a perguntas.

“É o Presidente de todas as televisões”, brincava o pivô José Alberto Carvalho no dia em que a casa onde Marcelo foi comentador por mais de uma década lhe deu honras de estrela televisiva para assinalar os 24 anos da estação.
“É muito mais fácil ser comentador do que Presidente”, confessava Rebelo de Sousa logo à entrada da TVI, num desabafo que viria a repetir no estúdio. Estava de regresso ao lugar onde tinha sido feliz e onde os portugueses se habituaram a vê-lo como figura lá de casa, a ponto de Rebelo de Sousa passar a ser apenas “o Marcelo” ou “o professor”.

2093 notícias 

Na contagem da TVI, tinham passado 348 dias, nove horas e 49 minutos com Rebelo de Sousa aos comando de Belém quando a emissão especial do Jornal da Noite começou. 
O arranque fez-se com os números do primeiro anos de mandato, traduzido em 20 visitas de Estado e 2.093 notícias. Dados que refletem o ritmo frenético da intervenção do Presidente que “fala demais” – o único ponto que mereceu reparo negativo do painel de comentadores do canal a Marcelo.
Dois dos quatro analistas eram amigos próximos de Rebelo de Sousa: José Miguel Júdice e Manuela Ferreira Leite. Mas acabou por ser Júdice o único a ousar dar notas àquele que inventou este sistema de classificar políticos.

as notas do amigo

Habituado a bons resultados académicos, Marcelo ouviu sem pestanejar os 20 valores dados por José Miguel Júdice à “empatia e aos afetos” e às questões sociais, o Bom atribuído ao “apoio ao governo e à estabilidade” e os 16 valores pela “mensagem de otimismo”. Mas não conteve um esgar a meio caminho do sorriso quando ouviu o “apenas Suficiente” que classificou a relação com a oposição e a crítica de que “tem falado demais”.
O Presidente teve tempo para se defender das más notas, mas acabou por ser Manuela Ferreira Leite a justificar que o que pode ser visto como excesso é apenas Marcelo “a ser genuíno”.
O tom elogioso não mudou sequer quando o comentário ficou a cargo do socialista Fernando Medina e da jornalista Constança Cunha e Sá.
Medina foi rasgado no elogio a “um ano bem conseguido”, que permitiu “reconciliar os portugueses com os políticos”. E Marcelo confessou que tanta proximidade tem “custos físicos” e “custos psicológicos”. 

1500 selfies em três dias

Afinal, nas contas do Presidente, só nos últimos três dias tirou “mais de 1.500 selfies” e cumprimentou “mais de quatro mil pessoas”. E ainda vai tendo de ouvir “casos deprimentes” que não o deprimem, “mas cansam espiritualmente”.
O que também já cansa Marcelo Rebelo de Sousa é o caso da CGD, mas mesmo assim, o Presidente voltou ao tema que tem dito estar “encerrado” para mais uma explicação. 
Para quem não percebeu por que motivo segurou Mário Centeno, recuperou a história da demissão de Vítor Gaspar em 2013 e todas as suas consequências: crise política, com a demissão de Paulo Portas, e um “largo período de crise e perturbação nos mercados”.

De resto, Marcelo promete ter comportamento idêntico com qualquer que seja o primeiro-ministro. “Apoio este governo, como apoiarei qualquer governo”, garante, explicando acreditar ser esse também o seu mandato constitucional.
Estrela do noticiário da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa foi falando do que quis e até antecipando-se ao que os jornalistas iam perguntar, mostrando que dentro do estúdio está como peixe dentro de água. “Parece que eu falo de tudo, mas eu não falo de tudo”, corrigiu o Presidente, assegurando que não vai começar a fugir às câmaras. “Não tenho aquela metodologia de recusar-me a enfrentar as câmaras. Isso não faço”. Nem precisa. Afinal, domina a técnica de anos de televisão em direto. “Respondo não respondendo”.