Crescimento acima de 3%?

Todos gostamos de crescimento económico: quanto mais, melhor. No discurso de tomada de posse para um novo mandato de três anos à frente da CIP, António Saraiva foi claro nos seus intentos: “É preciso reduzir o desemprego e o endividamento do país com mais competitividade das empresas. (…). Só assim teremos um crescimento económico superior…

Superior a 3%? Caramba! O crescimento económico no 4º trimestre de 2016, comparando com o 4º trimestre de 2015, foi de 1,9%. Querer aumentar esse crescimento, em termos relativos, em mais de 60%, é obra. E porque é que Portugal não consegue crescer mais do que 2%?

A meu ver, há três razões principais. A primeira é apontada por todas as organizações internacionais que visitam o nosso país: falta de flexibilidade no mercado de trabalho. De facto, em Portugal há dois mercados de trabalho: um onde os trabalhadores estão bem protegidos, tendo direito a boas indemnizações em caso de despedimento (ainda há poucos anos, Portugal era o país da OCDE onde era mais caro despedir um trabalhador com vinte anos de serviço), e um segundo mercado, o dos falsos recibos verdes, onde os trabalhadores não têm quaisquer direitos, podendo ser despedidos por qualquer motivo, sem alguma indemnização, e têm de fazer eles próprios todos os descontos para a segurança social.

Unificar estes dois mercados parece-me prioritário, e creio que Mário Centeno tem algum trabalho desenvolvido nesse sentido, mas as coisas são como são, e não se vê a geringonça a promover mais flexibilidade no mercado de trabalho para os contratos a termo incerto. António Costa veio hoje dizer isso mesmo, que “é preciso estabilizar a legislação do trabalho”. Não ocorre a estas pessoas, por muito inteligentes que sejam, uma verdade básica: se é muito difícil e custoso despedir, os patrões vão hesitar muito antes de contratar, ou vão recorrer a esquemas como os falsos recibos verdes.

A segunda razão que prejudica o nosso crescimento é a burocracia excessiva. É muito rápido abrir uma sapataria, mas para abrir uma nova unidade industrial são sempre precisos largos meses, e por vezes anos, entre o apresentar do projeto e o abrir portas. Impostos a cobrar muito cedo após o início da atividade, como o pagamento especial por conta, também não ajudam.

A terceira razão mais importante para o nosso débil crescimento económico é a falta de profissionalismo na gestão e de civismo de boa parte do patronato português. Muitas vezes os nossos patrões adotam o modelo de gestão “génio com ajudantes”. Não sabem trabalhar em equipa, muito menos delegar responsabilidades, outras vezes, protegidos pelos elevados custos de recorrer ao sistema judicial, dão calotes, e nunca respondem a telefonemas, quando antes faziam gala em dizer que “aqui, todos os telefonemas são respondidos”.

Obviamente, nem toda a gente é assim. Por termos casos em que há profissionalismo na gestão e seriedade é que temos alguns grupos e empresas de sucesso. Infelizmente, são mais a exceção do que a regra.

Enquanto todas estas situações não forem invertidas, os crescimentos económicos superiores a 3% não passarão de miragens.