Os jornalistas e Bruno de Carvalho

Na madrugada de domingo carreguei no botão 5 do comando do televisor (SIC Notícias) para assistir à divulgação dos resultados das eleições no Sporting.

Era cerca da 1h00 da manhã. O anúncio tinha sido prometido pelo presidente da Assembleia Geral para as 22h00, mas três horas depois ainda não se sabia nada. E nesse telejornal da 1h00 também nada disseram. Debalde esperei diante do ecrã até às 2h00. Acabei por me ir deitar sem saber os resultados.

 É verdade que não sou do Sporting, mas tinha escrito uma crónica no Record sobre o assunto e alimentava alguma curiosidade em relação ao desfecho.

Entretanto, fiquei a ver o que diziam os comentadores em estúdio. A uma mesa, além do moderador, sentavam-se mais três pessoas: um jornalista, um comentador penso que ligado ao Benfica (Joaquim Rita) e outro ao Sporting (Ribeiro Cristóvão).

Todos eles eram altamente críticos para com Bruno de Carvalho. Não tinha ganho quase nada no futebol em 4 anos, as contratações de jogadores foram um descalabro, o pagamento de 8 milhões a Jorge Jesus era disparatado, não havia coerência entre a escolha do treinador e a aposta na formação, etc.

Quem os ouvisse, sem saber mais nada, diria que Bruno de Carvalho teria um resultado desastroso – senão mesmo uma derrota. Ora, no domingo, ao levantar-me, verifiquei que obtivera mais de 86% dos votos – contra menos de 10% de Madeira Rodrigues.

É por estas e por outras que o jornalismo é mal visto por muita gente. Estando eu de fora, percebi uma coisa elementar: Bruno de Carvalho, com todos os seus evidentes defeitos, deu ao Sporting uma alma nova. Pôs de novo o Sporting no mapa. O Sporting é hoje visto de novo como um dos três grandes. Contratou três dos melhores treinadores portugueses (Leonardo Jardim, Marco Silva, e Jorge Jesus), pondo fim a um ciclo de treinadores estrangeiros de qualidade duvidosa. Os sócios voltaram a acreditar e os adeptos a encher o estádio. No ano passado, a equipa lutou pelo campeonato até ao fim, e talvez o tivesse ganho se um jogador seu não falhasse um golo contra o Benfica quase em cima da linha de baliza. Falou de igual para igual com os presidentes do Benfica e do FC Porto. Etc.

Foi por isto que Bruno de Carvalho teve quase 90%. E esse resultado mostra que os sócios sabem separar o trabalho global de um presidente do momento conjuntural da equipa principal de futebol, que não é nada bom.

Claro que, nos próximos 4 anos, Bruno de Carvalho não pode defraudar as expectativas. Pode não ser campeão. Mas tem de situar definitivamente o Sporting entre os 3 grandes, competindo com eles de igual para igual.