Precariedade laboral, a nova bandeira da esquerda

Não vi o debate quinzenal no parlamento, li somente a síntese de Catarina Martins: “Não foi bonito o que se viu”.

Li também, no Jornal de Negócios online, que António Costa prometeu a Catarina Martins o aumento da TSU para empresas que tenham uma elevada rotatividade dos seus trabalhadores. Devo dizer que concordo com a medida.

E isto porque as elevadas taxas de desemprego da última década e meia deram um poder extraordinário àqueles que, nas empresas, podem fazer despedimentos. Multiplicaram-se os departamentos de qualidade, sempre prontos a despedir os trabalhadores ao mínimo erro, e ignorando estupidamente que noutros aspetos, diferentes do pormenor em que errou, o trabalhador pode ser um funcionário exemplar. Segundo me disse uma vez um amigo que foi despedido de uma dessas empresas e alguns meses depois readmitido, “já não está lá ninguém do meu tempo”.

Multiplicaram-se os informadores, geralmente também pouco inteligentes, ao serviço de patrões pouquíssimo inteligentes (que por vezes são tão bons gestores que abrem falência em questão de meses; conheço mais de um caso assim). Mas enquanto são patrões, podem dar largas à sua prepotência, na medida em que a tiverem.

E multiplicaram-se também os despedimentos sumários, e as condições de trabalho de verdadeira exploração: é fácil despedir, pois há sempre muitos à procura de trabalho.

Este deve ser um dos textos mais à esquerda que já escrevi desde que sou articulista no Sol. Todavia, na minha qualidade de desempregado, já passei por várias das situações acima descritas. E a extrema-esquerda apoderou-se facilmente do tema da precaridade laboral, e habilmente conseguiu trazer o PS para bordo. Não se trata de impedir os despedimentos, trata-se apenas de penalizar financeiramente as empresas que abusam do poder de despedir.

Não sei, francamente, o que dirá a direita, mas talvez seja difícil arranjar contra-argumentos. Porque a esquerda e a extrema-esquerda, neste particular, estão do lado da justiça.