Houve quem deitasse foguetes, pois temia um resultado ainda pior.
Assim, daqui para o futuro, o truque será fazer previsões calamitosas – para depois todos ficarem satisfeitos por as coisas correrem menos mal do que o previsto.
Este resultado vem, uma vez mais, levantar a questão da privatização da CGD.
Confesso não perceber por que razão tanta gente, da esquerda à direita, defende uma CGD 100% pública.
Dizer que a Caixa devia ser privatizada é, nos dias de hoje, uma heresia.
Ora, ainda não vi um único argumento que me convencesse das vantagens de a CGD ser pública.
Pode ser que exista, mas eu não conheço.
Vamos ponto por ponto. Diz-se que a Caixa deve ser 100% pública para financiar a economia portuguesa, sobretudo as pequenas e médias empresas.
Mas não é essa a função de toda a banca?
Os bancos não existem também para financiar a economia (e daí retirarem os seus lucros)?
Além disso, não se criou um ‘banco de fomento’ especificamente para essa função – a ajuda às empresas de pequena e média dimensão?
Se a CGD cumpria esse papel, por que razão se criou o tal banco?
Pelos vistos, não cumpria.
Então, qual é a sua finalidade?
Há depois o argumento de que manter a Caixa pública é o único modo de haver um banco gerido por portugueses.
Mas qual é a vantagem disso?
Que garantias isso oferece?
O BPN, o BPP, o BES, o Banif, mesmo o BCP são exemplos a seguir?
As mãos portuguesas são garantia de boa gestão?
Um país que já teve, em posições-chave na banca, personalidades como Oliveira e Costa, João Rendeiro, Ricardo Salgado, Santos Ferreira ou Armando Vara, pode acreditar muito nos méritos dos seus banqueiros?
Já não torrámos dinheiro suficiente, desde a banca às telecomunicações (com o afundamento da PT), para desconfiarmos das qualidades profissionais (e seriedade) de muitos dos nossos gestores?
Percebe-se que o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda queiram a Caixa na esfera do Estado.
São partidos anticapitalistas, que portanto diabolizam a iniciativa privada.
O PCP e o BE acham que o Estado deve concentrar em si o poder político e o poder económico – para não falar do ‘poder ideológico’ – e, assim, tudo o que seja privatizar é mau, tudo o que seja nacionalizar ou manter no Estado é bom.
Manter a Caixa pública é, para eles, um dogma – não se discute.
Mas já se percebem menos bem as razões do PS e não se percebem de todo os motivos de muitos sociais-democratas e centristas.
A menos que queiram ter a Caixa como uma reserva para colocarem os seus boys, o que aliás tem acontecido sempre.
Por lá têm passado muitos políticos no desemprego.
Mas, para esta função, convenhamos que o ‘brinquedo’ é demasiado caro.
A CGD deu 2 mil milhões de prejuízo – e vai continuar a dar.
Por um motivo muito simples de explicar: ou a Caixa passava a ser gerida como um banco privado – e, nesse caso, podia dar lucro mas perdiam-se as vantagens teóricas de ser pública – ou continua a ser gerida como uma instituição pública – e será inevitavelmente deficitária.
Recorde-se que António Domingues (um homem que vinha do BPI) foi convidado, precisamente, para gerir a CGD com critérios semelhantes aos usados na banca privada (com a qual a Caixa concorre em mercado aberto).
Mas, se for esta a opção – insisto – que vantagem haverá em mantê-la como um banco público?
É um pouco o dilema da RTP.
Ou era gerida como os canais privados, e perdia o sentido – ou é gerida de modo diferente, e não é financeiramente sustentável.
A CGD arrisca-se, assim, a tornar-se um elefante branco.
Um sumidouro de dinheiro.
Para o evitar, seria mais transparente privatizá-la, pelo menos parcialmente – o que teria ainda a vantagem de evitar certos desmandos de que tem sido vítima por parte do poder político e que a levaram à desastrosa situação atual.
Aliás, a CGD só se vai manter 100% pública graças ao expediente de abrir o capital a particulares na próxima recapitalização, mas não lhes entregando ações.
Sinceramente, não vejo um único argumento racional contra a privatização parcial da Caixa.
Só vejo vantagens.
Pelo menos, os portugueses pagariam por ela um pouco menos.