As mulheres e o supermercado

Homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, não por serem iguais mas por serem seres humanos. E não deve haver diferenças de direitos em face do sexo, raça, religião ou idade 

NO DIA DA MULHER, aconteceu uma curiosa coincidência. O odiado Presidente brasileiro Michel Temer, que substituiu no cargo Dilma Roussef, fez um discurso em que disse a certa altura que as mulheres percebem melhor a economia do que os homens, pois vão aos supermercados e conhecem os preços. 

O discurso pretendia obviamente agradar às mulheres, mas acabou por ser um tiro pela culatra: as organizações feministas caíram-lhe em cima, acusando-o de ter sugerido que competia às mulheres fazer as compras da casa – e chamaram-lhe «machista». Temer foi obrigado a pedir desculpa.

Sucede que, no mesmo Dia da Mulher, em Portugal, a presidência do Conselho de Ministros, liderada pelo socialista António Costa, ofereceu a todas as mulheres que lá trabalham uma prenda simbólica. Uma prenda que, democraticamente, foi a mesma quer se tratasse da empregada da limpeza ou de uma técnica superiora. 

E em que consistiu a prenda? Num saco de compras para ir ao supermercado! A ideia do ‘feminista’ presidente do Conselho de Ministros português fora a mesma do ‘machista’ Presidente brasileiro!

O RIDÍCULO destas polémicas é óbvio. As feministas travam um combate errado ao dizerem que homens e mulheres são exatamente iguais – não havendo distinção entre o que uns e outros podem fazer.

Ora, não é evidentemente assim. Se o fosse, não haveria equipas de futebol masculinas e equipas femininas. E maratonas masculinas e maratonas femininas. Mulheres e homens não são iguais – e por isso não têm de fazer os mesmos trabalhos. 

Não vou dizer, como o infeliz deputado polaco, que as mulheres devem ganhar menos. Pelo contrário, digo que as mulheres e os homens devem ter os mesmos direitos, apesar de serem diferentes. Nuns casos poderão ganhar menos, noutros deverão ganhar mais, tudo dependendo das tarefas e da capacidade para as executar.

Nestas polémicas feministas, as pessoas não se vêem ao espelho.

Se uma mulher disser, por exemplo: «Lá em casa, o meu marido é quem arranja as torneiras quando se avariam», ninguém se insurgirá. Nem as mulheres nem os homens. Mas se um homem disser: «Lá em casa, quem limpa o pó é a minha mulher», todos lhe cairão em cima.

HÁ DOIS PESOS e duas medidas. Ora, com a experiência acumulada durante muitos anos de casamento, posso dizer que a divisão de tarefas em casa é fundamental para uma família funcionar bem. 

Se não houver divisão do trabalho, e todos fizerem tudo, as discussões serão constantes. «Hoje é dia de eu fazer o jantar, mas não me apetece. Importas-te de fazer tu?». «Eu? Claro que me importo! Desculpa lá, mas é o teu dia». «Eu sei, mas estou cansadíssimo e isto não é uma fábrica, com turnos…». «Pois não, mas não vou ceder. Se ceder um dia, vais começar a abusar». E a troca de palavras pode continuar interminavelmente.

Em muitos casais, estas discussões são quase diárias e tornam-se altamente penosas e desgastantes. Por isso, é melhor dividir as tarefas. Eu já sei o que tenho de fazer em casa – e a minha mulher também. E os filhos podem participar na divisão do trabalho, nem que seja em tarefas mais simples como fazer as camas, pôr e levantar a mesa, arrumar as roupas, etc.

O feminismo militante, para lá de estimular as discussões familiares, leva no limite a discursos como os do citado deputado polaco. Ou seja: ao dizerem que as mulheres são iguais aos homens, e por isso devem ter os mesmos direitos e ordenados, as feministas permitem que se faça a afirmação simétrica: «Como as mulheres não são efetivamente iguais aos homens, pois em média são mais baixas e têm menos força, devem ganhar menos em trabalhos físicos».

Repito: a lógica feminista conduz a isto. Se as feministas dissessem: «Nós devemos ganhar o mesmo que os homens, independentemente de sermos diferentes», já aquele tipo de discurso não seria possível.

Mulheres e homens devem ter os mesmos direitos e deveres  não por serem iguais mas por serem seres humanos. E entre os seres humanos não deve haver diferenças de direitos em face do sexo, raça, religião ou idade.

Até porque, bem vistas as coisas, se as mulheres são de facto em média mais baixas e têm menos força do que os homens, também é verdade que normalmente são mais persistentes, mais corajosas, mais organizadas, e até mais dedicadas.

E tudo isto concorre no sentido da divisão do trabalho – aproveitando o que de melhor têm mulheres e homens.

Uma divisão do trabalho em casa, nas fábricas, em todas as áreas da sociedade, baseada em critérios de justiça e tendo em conta as diferenças. 

Deve ser esta a luta não só das mulheres mas de toda a Humanidade.