Taxas de juro portuguesas baixam 0,5% em menos de um mês

Assim é. Dos 4,33% que a dívida pública portuguesa com o prazo de 10 anos atingiu no dia 16 de março, as taxas de juro têm vindo a descer quase continuamente desde aí. Hoje, 10 de abril, atingiram 3,82%, menos 0,51% do que o máximo de 16 de março.

Esta descida não tem efeitos imediatos, como uma poupança de juros. A dívida a que o Estado português se endivida nos mercados internacionais é de taxa fixa, inalterável até ao reembolso. Simplesmente, como os títulos de dívida são transacionados no mercado, há quem os compre mais baratos ou mais caros, obtendo por isso maiores ou menores rendimentos até ao reembolso, e fazendo assim variar as taxas de juro que recebe.

Para Portugal, os efeitos da descida das taxas de juro vêm-se mais para a frente: quando a República Portuguesa se endividar novamente, pagará menos em juros por essa nova dívida, pois ela será vendida mais cara. E é positivo para o país, claro está, pagar menos em juros, cuja fatura no orçamento de Estado é muito pesada.

E a que se deve esta redução dos juros? Dois fatores são essenciais: por um lado, o défice orçamental de 2016, de 2,1% do PIB (total da produção do país), que de tão baixo superou as estimativas mais otimistas; por outro lado, a economia está com um bom ritmo de crescimento – o Banco de Portugal prevê que o PIB português cresça 1,8% este ano – o que significa que há mais dinheiro disponível para o país pagar as suas dívidas. Portugal é assim considerado um sítio menos arriscado para investir, e consequentemente as taxas de juro descem.

Tudo isto se passa com um silêncio ensurdecedor das agências de rating. A próxima a pronunciar-se sobre a situação económica nacional, salvo erro, é a canadiana DBRS, a única que não nos classifica a dívida como “lixo”, a 21 deste mês. Das outras, há que esperar, se forem sérias, ou uma subida do rating, tirando-nos do “lixo”, ou no mínimo passarem-nos para perspetivas positivas, o que indica que a próxima mudança de rating, provavelmente, será no sentido da subida. Se as agências, em especial as três maiores, que classificam a nossa dívida como “lixo”, deixarem tudo na mesma, isso significará que continuam demasiado aterrorizadas para tomar qualquer iniciativa, medo próprio de quem se enganou muito no passado recente, e vive no terror de se enganar outra vez.