Quererão os alemães pagar as nossas contas?

Já deve ser uma ambição unânime na política portuguesa. 

Fiquei hoje admirado, pela positiva, ao ouvir Pedro Passos Coelho a defender uma “união bancária europeia” (em que os bancos de países diferentes sejam solidariamente responsáveis entre si), mas também uma “união de mercados financeiros” (essa, em boa parte, está feita pela globalização), e, finalmente, uma “união de transferências” (um orçamento comum de países diferentes). Maior ou menor, é uma ideia revolucionária, e Passos é a favor.

Quanto o euro nasceu, os países tradicionalmente com menor disciplina orçamental, entre os quais Portugal, viram como principais vantagens da adesão a uma moeda estável nos mercados, sem oscilações importantes e repentinas, e taxas de juro muito baixas. O euro teve, no entanto, uma consequência não prevista: como acolhia países mais fracos (especialmente Portugal, Espanha, Itália e Grécia) acolher esses países mais débeis e indisciplinados orçamentalmente fez com que o euro se tornasse barato nos mercados. Isso provocou enormes ganhos nas trocas comerciais da Alemanha e da Holanda, que puderam vender os seus bens e serviços a bons preços. Inversamente, a moeda única provocou défices comerciais persistentes, por o euro estar demasiado elevado para os bens e serviços que vendem (em boa parte, também, por culpa nossa, por gastarmos demais) os países do Sul, incluindo Portugal. 

Foi assim que surgiu a ideia da união de transferências, ou seja, do orçamento comum, que permita transferir dinheiro dos países mais ricos, como a Alemanha, para os mais pobres, como Portugal. A ideia é discutida há anos, e nenhuma decisão será tomada antes das eleições legislativas alemãs, em setembro. 

Destaca-se que a ideia é anátema para boa parte da sociedade alemã. Se os países pobres são pobres é por sua própria culpa. Conseguirá a chanceler Merkel, que vai a caminho de um inédito quinto mandato, “vender” a ideia ao seu eleitorado? É muito difícil, mas não totalmente impossível.

O momento de saudar hoje é a adesão de Passos Coelho à ideia do orçamento comum. Isso pode fazê-lo ganhar popularidade em Portugal, mas tem um custo político no seio da sua própria família política europeia. Também por isso, seja bem-vindo, Sr. Dr.