Trump. Viagem toldada pela ambiguidade na paz israelo-palestiniana

Presidente dos EUA aterroi em Israel defendendo um novo ímpeto para os processos de paz. Os objetivos são incertos

Donald Trump chegou hoje de manhã a Israel com o mesmo objetivo em que muitos dos seus antecessores esbarraram: lançar um processo credível de paz entre israelitas e palestinianos. Mas as prioridades do seu governo não são claras e parecem estar em constante mudança. Só esta semana, por exemplo, a embaixadora americana nas Nações Unidas retomou a promessa que Trump fez em campanha, ao recomendar mudar a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém, o que na prática significaria reconhecer que a cidade contestada estaria fora do controlo palestiniano numa possível solução de dois Estados.

Dias depois, o executivo americano disse que ainda está a decidir o assunto. E esta segunda-feira, para complicar ainda mais a posição de Washington, Trump fez uma visita ao Muro das Lamentações, no leste de Jerusalém, tornando-se o primeiro presidente em funções a fazê-lo e a desafiar a reclamação palestiniana àquela área da cidade.

Trump tem pela frente dois dias de simbolismo e insinuações políticas. À chegada, horas depois de grandes protestos na Cisjordânia e de um carro se ter lançado contra uma multidão em Telavive, o presidente norte-americano foi recebido por Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, que o apoiou na campanha e espera concessões no processo de paz e de construção de colonatos, mas que desde novembro, tal como jornalistas e líderes mundiais, tem visto a nova administração mudar de rumo sobre o equilíbrio israelo-palestiniano.

O líder norte-americano chegou a dizer que podia aceitar a solução de um Estado apenas, o que é inaceitável para os palestinianos e pode significar um regime de apartheid nos territórios de maioria muçulmana, uma vez que Israel é assumidamente um Estado judaico. Mas desde que fez essas declarações, em fevereiro, o presidente não voltou a tocar no assunto e Washington já não parece defender essa via. Os negócios de cerca de 450 mil milhões de dólares com os aliados sauditas, celebrados no fim de semana, também não aliviaram os receios do governo israelita e da sua coligação de partidos ortodoxos e nacionalistas. 

E a missão de Trump parecia hoje ser a de ligar os receios pela emergência do poder iraniano e um processo de paz com os palestinianos, forçando a mão do governo de Netanyahu no sentido de retomar um diálogo em troca de uma postura mais severa contra Teerão. “Há uma ideia cada vez mais robusta entre os vossos vizinhos árabes de que têm uma causa em comum na ameaça que o Irão representa”, defendeu, depois de se encontrar com o presidente israelita, Reuven Rivlin.

Netanyahu disse mais tarde, numa conferência conjunta com o presidente americano, que “pela primeira vez na minha vida vejo uma oportunidade real para uma mudança”, fazendo referência àquilo que Trump diz ser “o negócio mais difícil de todos”: a paz com o vizinho palestiniano, com quem se encontrará hoje, em Belém, na figura do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.