A escolha da Universidade de Maastricht para fazer parte da parceria da qual vai nascer a futura Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa está a gerar desconforto no meio católico e pró-vida. O anúncio desta aliança surgiu em fevereiro, quando foi apresentado o projeto que inclui, como principais parceiros da Católica, a Luz Saúde e a Câmara de Cascais. O objetivo é avançar com o primeiro curso privado de medicina no país e as aulas vão funcionar no antigo edifício das Águas de Cascais, que deverá ser transformado pela Luz Saúde em hospital universitário. No ano passado, a reitora da Católica Isabel Capeloa Gil anunciou que o projeto era diferenciador e «centrado na defesa inabalável da vida».
O parceiro holandês, porém, promove estudos em torno da eutanásia, um dos quais foi motivo de contestação por parte dos movimentos pró-vida. Trata-se de um trabalho que estimou a percentagem de órgãos de pessoas que recorrem à eutanásia que poderiam ser doados, o que potencialmente pode reduzir a lista de espera para transplantes. Da universidade saíram já quatro artigos sobre esta matéria, assinados por investigadores como Jan Bollen, dos departamentos de Cuidados Intensivos e Anestesiologia do Centro Médico da Universidade de Medicina ou Rankie Ten Hoopen, especialista em Direito da Saúde da instituição. A universidade tem também nos seus quadros um especialista em Ética Médica, Rob Houtepen, que pertence ao comité de revisão dos casos de eutanásia no Sul no país – na Holanda, onde a eutanásia é legal desde 2002, todos os casos são revistos para garantir que são cumpridos os critérios na lei.
Já em março, a universidade recebeu a ministra holandesa dos Negócios Estrangeiros, Lilianne Ploumen, para uma conversa com os alunos sobre a campanha internacional de angariação de fundos que lançou em janeiro (She Decides) para fazer face ao corte de financiamento por parte dos Estados Unidos às associações que trabalham em planeamento familiar e que incluam o aborto como opção.
Segundo o SOL apurou, a abertura da nova parceira Católica a estes temas já levou mesmo peritos da Medicina e da Ética a recusar colaborar com os primeiros passos da futura faculdade, cuja inauguração foi apontada para 2019 pelo presidente da Câmara de Cascais Carlos Carreiras. Uma fonte próxima do processo indicou que o mal estar com esta escolha começa a ser, por isso, notório. A opção por Maastricht terá sido ditada pelo aspeto inovador do seu curso de Medicina, centrado na análise de casos e multidisciplinaridade e não tanto na divisão clássica dos currículos por áreas. No ranking mundial de universidades da revista Times – Times Higher Education (THE), um dos mais reputados a nível mundial – Maastricht ocupa, na edição do ano passado, a 94.ª posição no índice geral mas é a 6.ª melhor universidade entre as instituições com menos de 50 anos. «Não terá sido mal intencionado, mas colocam-se os rankings à frente da matriz cristã.
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