Bruxelas respirou de alívio? Pudera!

Estava eu para escrever sobre a bênção das fitas, em que mais de 4 mil estudantes, impantes de alegria e orgulho, merecidamente celebram o término dos seus cursos universitários,  quando todos os noticiários me interrompem a dizer que «Portugal saiu do Procedimento por Défice Excessivo». 

Eh pá! Isto, sim, é notícia importante e que nos enche de justificado orgulho! Fui para o Marquês de Pombal – nada! Não estava ninguém?! Que raio se passou? Não teria ouvido bem? Com a idade, sei que um tipo vai perdendo faculdades – mas esta era uma notícia tão importante que merecia celebração nacional. Mas não… Mereceu apenas autoelogios de António Costa e Mário Centeno, justificadamente orgulhosos do feito atingido e que inicia nova etapa nos relacionamentos internacionais. Nada mau! Mas fiquei triste: acho que no Marquês, com uma manifestação a sério de regozijo, é que era… 

Marcelo, mais uma vez, veio agradecer a todos os que contribuíram para o feito, colocando as coisas no seu devido lugar. António Costa tinha referido que «esperava ser a última vez que passámos por um processo tão traumático que destruiu empregos, empresas, rendimentos, poupanças e expectativas de vida de tantos portugueses». 

Teatral como sempre, esquecendo 2011 como sempre, conseguindo a concordância de todos como sempre – também a minha, desejoso de novas eras de prosperidade. Apenas um pequeno detalhe: mas afinal a troika, causadora de todas as desgraças, não foi chamada pelo PS? Ok, erro meu. Esta parte da história é passado, ou seja, é para apagar com a borracha e esperar que as pessoas apenas se recordem dos tempos austeros impostos por Passos Coelho que ‘levou com o embrulho’ que o PS legou ao país em 2011. 

Ou ainda melhor: que tal fazer uma lei que imponha o esquecimento de alguns dados económicos de 2015 que indiciavam uma clara retoma económica no fim desse ‘malfadado’ período de 4 anos de austeridade, com um crescimento de 1,6 % que foi superior ao conseguido no primeiro ano deste Governo (1,4%). Ou de rendimentos que, segundo o INE nas suas estatísticas agora publicadas, subiram bem acima da inflação.
 
Se assim é, então quero ficar alinhado e já me esqueci também. Como o passado ficou lá atrás, falemos de futuro. Das boas notícias! Deste Governo que, aliado à esquerda radical anti-Europa, promovendo políticas de inversão das privatizações, tem obtido (na sua prática verdadeiramente social-democrata, como o Bloco e o PC sabem, mas têm ‘engolido’) o apoio de Bruxelas. 

Esta Comissão Europeia, outrora cética, respira de alívio com esta saída de Portugal (e Croácia). Pudera! Um défice de 2,0% muito abaixo do exigido por Bruxelas; crescimento homólogo de 2,8% no 1º trimestre de 2017, sustentado na boa economia (em vez do crescimento do consumo privado como ansiava e preconizava este Governo, que afinal até retraiu em 2017!); com investimento público superreduzido mas seduzindo fortemente o investimento estrangeiro, como fez para a banca, ou beneficiando largamente do investimento imobiliário e do turismo; afastando liminarmente a renegociação da dívida, como fez Centeno. Com tudo isto, como haveria Bruxelas de reagir? Com otimismo! Moderado, claro, quiçá por conhecer bem demais este povo gastador em demasia, sempre vão relembrando a necessidade:

1. De novo esforço de consolidação, que se traduza na sustentabilidade das finanças públicas (leia-se: cuidado com a saúde e com o peso das reformas na economia);
2. De mais eficiência administrativa (problema nacional da falta de produtividade);
3. Dos bancos limparem o crédito mal parado (que os intoxica e exige rácios exigentes de capital a cumprir);
4. Algumas alterações laborais (incluindo preocupações sobre salários mínimos e o crescimento que têm tido, bem acima da produtividade e inflação). 
Deste arrazoado se infere que o caminho a percorrer tem muitos escolhos, e tiro o chapéu a António Costa por igualmente no-lo ter relembrado. Falta agora fazer: 
1. Diminuir o défice estrutural; 
2. Captar investimento estrangeiro reprodutivo! Fácil de dizer e muito difícil de fazer com estas políticas fiscais erráticas e extrema morosidade da justiça. Se o diagnóstico está feito, atue-se de forma célere nestas áreas!
 
Porque o futuro também é a juventude, termino como comecei: quantos destes jovens licenciados, ao voltarem a casa depois da euforia das bênçãos das fitas, viriam a pensar: onde vou arranjar emprego? Terei de emigrar? 

A proliferação de cursos dá nestas ilusões. As empresas empregam consoante as necessidades, e os tempos que se avizinham não auguram nada de bom. O emprego não qualificado vai aumentando, até por efeitos diretos e indiretos do turismo a crescer a níveis fantásticos. Mas, e os licenciados? Somos fautores de ilusões, que começam no facilitismo do ensino – e que têm como resultado que muitas escolas dêem diplomas muito bonitos, lindos, de emoldurar, mas os seus licenciados sejam depois preteridos por falta de crédito universitário comummente reconhecido.