Treinadores portugueses. A torrente que orienta o futebol mundial

De Mourinho a Jaime Pacheco. De Espanha até à China. Os treinadores portugueses fazem sucesso em todo o mundo. Porquê? Porque “são os melhores”.

De acordo com os dados mais recentes da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), há 200 treinadores portugueses a orientar equipas no estrangeiro, contando com técnicos principais, adjuntos e equipas técnicas.

Segundo a ANTF, os portugueses treinam equipas de futebol nos quatro cantos do mundo: Espanha, Inglaterra, Itália, Ucrânia, Angola, Qatar, Malásia, Burkina Faso e, basicamente, em qualquer sítio onde haja uma bola.

Mas qual é o segredo do sucesso dos treinadores pelo mundo? Simples: «Somos os melhores do mundo», diz ao SOL José Pereira, presidente da ANTF.

«Nós treinamos bem e lideramos bem», acrescenta José Pereira. Tão bem que «os treinadores de outros países começam a querer aprender connosco».

Esta história não é de agora. «A emigração dos treinadores portugueses tem crescido paulatinamente», refere o presidente da ANTF, recordando Artur Jorge, campeão europeu pelo FC Porto em 1987, altura em que foi para França, treinar o Paris Saint-Germain: «Começou com Artur Jorge, depois surge o sucesso do Figo, que também ajudou a que os estrangeiros olhassem mais para Portugal, depois o Mourinho deu o toque final. O Cristiano Ronaldo, claro, também faz com que os outros olhem para nós e vejam que aqui há qualidade».

E o sucesso do trabalho dos portugueses pelo mundo tem uma explicação: «A competência», diz José Pereira. «O sucesso do treinador português lá fora deve-se à competência que é reconhecida internacionalmente. Os treinadores portugueses reúnem predicados que fazem a diferença. A técnica, a liderança e a proximidade ao grupo de trabalho são alguns dos fatores que fazem com que os treinadores portugueses se destaquem», sublinha.

«Quando foi dada oportunidade aos treinadores portugueses lá fora, eles aproveitaram-na», afirma.

Das centenas de treinadores de futebol portugueses a trabalhar no estrangeiro, esta época, que em muitas zonas do globo ainda não terminou e em outras ainda nem começou, já se destacaram dois: Leonardo Jardim, garantindo ao Mónaco o improvável título francês, e Paulo Fonseca, campeão da Ucrânia com o Shakhtar Donetsk. Sem esquecer, claro, Paulo Bento. O antigo selecionador nacional também se sagrou campeão da Grécia, mas não chegou a terminar a época no Olympiacos.

José Mourinho – Inglaterra/Manchester United

O ‘Special One’ não precisa de apresentações. Mourinho ganhou a Liga dos Campeões pelo FC Porto, saiu para o Chelsea e abriu a porta a uma nova vaga de treinadores que se quiseram mostrar no estrangeiro. «Deu o toque final» no processo, diz José Pereira.

Saiu de Portugal em 2004 e nunca mais voltou. Deu dois títulos ao Chelsea, seguiu-se o Inter de Milão, onde ganhou outra Liga dos Campeões, Real Madrid, sangrando-se campeão de Espanha ultrapassando o super-Barça de Guardiola, voltou a Londres e deu outro título ao Chelsea, e agora o Manchester United, onde acabou de vencer a Liga Europa.

Leonardo Jardim – França/Mónaco

Antes da sua primeira experiência profissional no estrangeiro, no Olympiacos da Grécia, o madeirense fez carreira no Camacha, Chaves, Beira-Mar e Sp. Braga. Tal como aconteceria mais tarde com Paulo Bento, deixou o Olympiacos em primeiro lugar do campeonato grego e foi despedido antes de o clube de Atenas se sagrar campeão.

Este ano, Jardim conseguiu nova proeza: dar o título francês ao Mónaco, suplantando o todo-poderoso Paris Saint-Germain. Na Liga dos Campeões, o clube do principado chegou às meias-finais pela mão do português de 42 anos.

André Villas-Boas – China/Shanghai SIPG

Antes de fazer parte da equipa técnica de José Mourinho no FC Porto, Chelsea e Inter de Milão, o português já tinha tido uma experiência nas Ilhas Virgens Britânicas como coordenador técnico da seleção do país das Caraíbas.

Depois de toda a história com Mourinho, Villas-Boas aventurou-se a solo como treinador da Académica de Coimbra, o que o catapultou imediatamente para a sua «cadeira de sonho», no FC Porto. Desde então, a carreira do português que ainda só tem 39 anos já passou por Inglaterra (Chelsea e Tottenham), Rússia (Zenit) e, agora, China (Shanghai SIPG).

Paulo Sousa – Itália/Fiorentina

Enquanto jogador, passou por Benfica, Sporting, Juventus, Dortmund, Inter, Parma, Panathinaikos e Espanyol. Ganhou uma Liga dos Campeões pela Juventus e outra pelo Dortmund.

Como treinador, Paulo Sousa continua a ser um globetrotter. Inglaterra, País de Gales, Hungria, Israel, Suíça e agora Itália, na Fiorentina. O português está à frente da equipa de Florença há já dois anos; o ano passado conseguiu o 5.º lugar e este ano deverá acabar no 8.º posto. 

Paulo Fonseca – Ucrânia/Shakhtar Donetsk

2016/2017 foi o ano da consagração de Paulo Fonseca, ao fazer a dobradinha na Ucrânia. O treinador nascido em Moçambique sagrou-se campeão da Ucrânia com 18 pontos de avanço sobre o Dínamo de Kiev e na final da Taça bateu novamente os rivais da capital ucraniana. Esta está a ser a primeira experiência internacional de Paulo Fonseca. Em Portugal já tinha ganho uma Taça de Portugal pelo Sp. Braga e uma Supertaça pelo FC Porto.

Jaime Pacheco – China/Tianjin Teda

A carreira de Jaime Pacheco vai ficar para sempre marcada pelo título ganho em Portugal pelo Boavista, pondo em causa a hegemonia de FC Porto, Benfica e Sporting. Aconteceu em 2001 e, desde então, nenhum outro treinador ficou sequer perto de conseguir igualar o feito.

O Jaime Pacheco pós-Boavista passou por Espanha, Arábia Saudita, Egito e China, onde se encontra na segunda época ao serviço do Tianjin Teda. No futebol chinês, o clube da cidade de Tianjin ficou no ano passado em 11.º e este ano, a meio do campeonato, está em 12.º.

Sá Pinto – Grécia/Atromitos

Ricardo Sá Pinto estreou-se como treinador principal logo no Sporting, mas um traumático 7.º lugar precipitou a sua saída. Depois de Alvalade seguiram-se experiências na Sérvia, pelo Crvena Zvezda, e na Grécia, tendo passado pelo OFI e, agora, no Atromitos.

Em Atenas, Sá Pinto colocou o Atromitos a meio da tabela do campeonato grego, mas o português não quer ficar por aqui. No fim do campeonato, o Atromitos anunciou a renovação do contrato de Sá Pinto por mais um ano.

Marco Silva – Inglaterra/Hull City

Levou o Estoril à Europa e deu o salto para o Sporting. Depois de ganhar a Taça pelos leões, saiu alegadamente por problemas com a direção de Bruno de Carvalho.

Saiu em 2015 para o Olympiacos da Grécia e deixou o clube das proximidades de Atenas em primeiro lugar tendo sido afastado antes de o clube se sagrar campeão. Depois seguiu-se Inglaterra, no Hull City, onde, após um bom início, não conseguiu evitar a despromoção. E agora? Regressará a Portugal? O FC Porto pode ser a próxima paragem.

Pedro Caixinha – Escócia/Rangers

O alentejano Pedro Caixinha tem acumulado milhas. Como treinador já passou pela Grécia, Arábia Saudita, México, Qatar e Escócia. A vida do treinador português ao serviço do histórico Rangers de Glasgow não está fácil. Acabou em 3.º lugar a uns impressionantes 39 pontos de distância do campeão Celtic.

Caixinha atingiu o auge no México, com o Santos Laguna, ao vencer um campeonato do México e uma Taça do país.

Sérgio Conceição – França/Nantes

Só esta época é que se aventurou no estrangeiro como treinador. Em França, no Nantes, alcançou o 7.º lugar. Antes disso, começou a carreira de treinador no Olhanense, seguiu-se a Académica de Coimbra, o Braga e o Vitória de Guimarães.

Já como jogador, passou por Itália, Bélgica, Kuweit e Grécia.

Vítor Pereira – Alemanha/TSV 1860 Munique

Dono de um palmarés invejável, Vítor Pereira tenta agora a sorte na segunda divisão da Alemanha, no TSV 1860 Munique. Vencedor de dois campeonatos e duas Supertaças em Portugal pelo FC Porto, um campeonato e uma Taça da Grécia pelo Olympiacos, Vítor Pereira não conseguiu melhor do que o 16.º lugar no segundo escalão da Alemanha.

Além da Grécia e da Alemanha, Vítor Pereira experimentou ainda o futebol na Turquia, no Fenerbahçe, e na Arábia Saudita, com o Al-Ahli Jeddah.

Carlos Carvalhal – Inglaterra/Sheffield Wednesday

Em 2002 levou o Leixões à final da Taça de Portugal, perdendo no Jamor com o Sporting por 1-0. Mesmo com esse marco histórico, continuou a fazer uma carreira discreta por Portugal. Passou, em 2008, pelo Asteras Tripolis, da Grécia. Em 2010 chegou ao Sporting e depois saiu para a Turquia, onde orientou o Besiktas e o Istanbul BB. Passou ainda pelos Emirados Árabes Unidos e, em 2015, assina pelo Sheffield Wednesday, da segunda divisão inglesa. Falha por pouco a subida à Premier League em dois anos seguidos, mas os responsáveis ingleses já anunciaram a renovação do contrato de Carvalhal.

Jorge Costa – Tunísia/Sfaxien

Após quatro anos a orientar a seleção do Gabão, Jorge Costa abraçou este ano um novo projeto: O Sfaxien da Tunísia. O conjunto de Jorge Costa, que chegou já no decorrer da época, garantiu o quarto lugar na liga tunisina.

Antes das aventuras em África, Jorge Costa já tinha passado pelo Chipre, orientando o Anorthosis e o AEL Limassol.

Como jogador, o histórico central do FC Porto só por duas vezes saiu de Portugal, primeiro para representar o Charlton, de Inglaterra, e, mais tarde, para o Standard de Liége.

Paulo Torres – Angola/Interclube

Depois de Portugal, Paulo Torres tem feito carreira em África. Saiu do Torreense em 2013 e, a partir daí, a Guiné-Bissau tem sido a sua casa. Até este ano, quando se mudou para Angola para treinar o Interclube de Luanda.

Paulo Torres substituiu o também português Filipe Moreira no comando técnico do clube angolano.

No Girabola, o Interclube está em 8.ª na tabela, mas a época ainda agora vai a meio.

João Mota – Emirados Árabes Unidos/Al Khaleej

O lisboeta de 50 anos mudou-se para os Emirados Árabes Unidos em 2011, na altura era adjunto no Hatta Club. Depois ainda voltou a Portugal, passou pelo Brasil e em 2013 mudou-se definitivamente para os EAU, treinando o Dibba Al-Hisn e depois o Al Khaleej.

Jesualdo Ferreira – Qatar/Al Khaleej

Experiência não falta a Jesualdo Ferreira (Espanha, Grécia, Egito e Qatar) e o palmarés não engana ninguém (tricampeão português, duas Taças de Portugal, uma Supertaça nacional e um título de campeão do Egito). Jesualdo foi o primeiro treinador potuguês a conquistar três títulos seguidos.

Atualmente, o técnico de 71 anos treina o Al-Sadd, do Qatar, onde acabou de conquistar a Taça do país da península Arábica. No Al-Sadd, Jesualdo treina Xavi, o espanhol antigo médio do Barcelona.

José Peseiro – Emirados Árabes Unidos/Al Sharjah

Em Portugal, chegou a treinar Sporting, Braga e FC Porto, mas antes disso já tinha sido treinador-adjunto do Real Madrid (ao comando dos Galáticos estava Carlos Queiroz).

José Peseiro tem apenas um título na bagagem: uma Taça da Liga portuguesa. Pelo Sporting, chegou a uma final da Taça UEFA, que os leões acabariam por perder em Alvalade frente ao CSKA de Moscovo.

Seguiu-se Arábia Saudita, Grécia, Roménia, Emirados Árabes Unidos e Egito. Atualmente no Al Sharjah do Egito, Peseiro está em 9.º na Arabian Gulf League.

Recorde-se que a estreia de Nelo Vingada à frente dos malaios, agendada para o próximo dia 8 de junho frente à Coreia do Norte, teve de ser adiada devido à tensão que se vive na península coreana.

Nelo Vingada – Malásia/Seleção

Nelo Vingada tem um historial impressionante: Seleções jovens, Egito, Jordânia, Marrocos, Irão, Coreia do Sul, Índia e, agora, Malásia.

O treinador de Serpa mudou-se este ano para Kuala Lumpur, onde está a orientar a seleção da Malásia. «É uma pessoa com uma excelente ética de trabalho», disse a Federação de Futebol da Malásia na altura da sua apresentação.

Vingada quer agora qualificar a Malásia para a Taça da Ásia de 2019, prova que conquistou em 1996 pela Arábia Saudita.

Carlos Queiroz – Irão/Seleção

Ao serviço da seleção do Irão desde 2011, Carlos Queiroz mostrou-se ao serviço do Sporting, onde venceu uma Taça de Portugal, mas foi elemento chave no Manchester United na equipa técnica de Alex Ferguson. O Real Madrid apostou nele como treinador principal dos Galáticos, onde treinou Figo, Ronaldo, Zidane, Beckham e companhia, mas acabou por ficar apenas uma ano.

Voltou ao United, depois à seleção nacional e depois a seleção do Irão. Luta, agora, pela qualificação do Irão para o Mundial de 2018.

Paulo Duarte – Burkina Faso/Seleção

Saiu da União de Leiria em 2007 e seguiu logo para o Burkina Faso. Passou ainda por França, pelo Gabão e pela Tunísia.

Em França, treinou o Le Mans ao mesmo tempo que orientava a seleção do Burkina Faso. 

Em 2016 voltou à seleção do Burkina Faso.

Na edição deste ano da CAN, Paulo Duarte levou o Burkina Faso às meias-finais da competição, perdendo com o Egito nas grandes penalidades. No jogo de terceiro e quarto lugares, venceu o Gana e garantiu o pódio.