É entendimento da Polícia Judiciária (PJ), de dois procuradores da República e de dois juízes de Instrução Criminal (JIC) que Pedro Grancho Bourbon, advogado de profissão, à data secretário-geral do Partido Democrático Republicano (PDR), é o autor moral do chamado rapto mortal de Braga – um crime inédito em Portugal –, tendo encontrado o «álibi perfeito», com a sua ausência do local do crime, a centenas de quilómetros, devido a reuniões partidárias presididas por António Marinho e Pinto, supostamente aproveitando-se da credibilidade e prestígio do antigo bastonário da Ordem dos Advogados, e atual deputado no Parlamento Europeu. Aliás, a maioria dos principais arguidos eram militantes ou dirigentes do PDR, como os irmãos do clã Bourbon e Emanuel Paulino, os principais protagonistas deste caso de horror e violência extrema em Portugal.
A Acusação do Ministério Público (MP) reiterou a convicção inicial do «álibi perfeito», destacando que o rapto consumou‑se «sabendo que no dia 10 de março de 2016 [véspera do rapto] a vítima João Paulo chegou a Portugal proveniente de França e que se encontrava na sua residência em Lamaçães [Braga]. (…) Tendo na manhã de 11 de Março Pedro Bourbon agendada uma ida a Lisboa, por razões de índole partidária, com regresso apenas na noite de 12 de março, seria esse o ‘álibi perfeito’, conforme o combinado», segundo refere igualmente o libelo acusatório.
Aliás, Pedro Bourbon, aquando da sua detenção, há um ano, desde logo invocou ter um álibi (embora rejeitando esse epíteto) e nomeando a propósito António Marinho e Pinto:
«O João Paulo foi raptado numa sexta-feira, no sábado fui contactado pela Polícia Judiciária, à qual me desloquei; estava em Évora e já vou explicar o porquê, e desloquei-me à Polícia Judiciária para explicar, para falar. Quiseram uma conversa informal e eu contei, relatei onde é que estava. Portanto, estava num evento do PDR, do qual eu exercia funções, evento esse que já tinha sido marcado em novembro.
Posteriormente, salvo o erro, em dezembro ou janeiro foi reagendado e dei os nomes do Doutor Carvalho Guarda e do Doutor Marinho e Pinto para poderem confirmar. Portanto, é a forma como me querem associar a uma situação destas, Senhor Doutor Juiz, eu só quero falar de factos. Não há álibi nenhum, porque não tinha que haver. Já estava marcado a conferência onde estive e todas as sextas‑feiras desde há, sensivelmente, há um ano para cá, que me desloco a Lisboa para o PDR. E neste caso tivemos uma conferência também no sábado, como acontecia em diversas outras ocasiões, o que foi transmitido à Polícia Judiciária para apurar e para verificar esses factos».
Os principais suspeitos do rapto e assassínio de João Paulo eram todos da ala ‘marinhista’ do PDR, isto é, apoiantes incondicionais de António Marinho e Pinto, após querelas internas agudas, em que o próprio eurodeputado teve que chamar a PSP para acalmar os ânimos. Eram os tempos da troca de acusações mútuas entre o ex-bastonário da Ordem dos Advogados e o psiquiatra duriense Eurico Figueiredo (antigo deputado do Partido Socialista), quando Rodrigo de Sousa e Castro, Capitão de Abril, e Pedro Barroso, músico e cantor, se afastavam das hostes do PDR.
Por isso, o bruxo da Areosa, nas escutas telefónicas captadas e gravadas pela PJ, augurava uma carreira promissora a Pedro Bourbon como o vice-presidente e secretário-geral do PDR.
Entre os arguidos e o PDR, o denominador comum era Pedro Bourbon, que acabara de ajudar a afastar os contestatários internos, colocando nos órgãos dirigentes, executivos e consultivos, as pessoas da sua inteira confiança, como era o caso do bruxo da Areosa.
Independentemente das circunstâncias, António Marinho e Pinto será testemunha abonatória de Pedro Bourbon em julgamento, já que o conhece desde criança.
Isabel Ramos, JIC do Porto, retomou a questão desse «álibi perfeito», referindo no seu despacho final «serem as suas escutas telefónicas totalmente elucidativas, quer da relação estreitíssima de Pedro Bourbon com Emanuel Paulino, quer do seu envolvimento nos crimes, apesar de ter tido sempre o cuidado de não estar diretamente envolvido nos factos, arranjando um ‘álibi’, a reunião partidária que era sempre às sextas‑feiras, sendo que ‘coincidentemente’ o rapto ocorreu precisamente a uma sexta-feira».