Mobilidade. Nova Iorque quer imitar cascais

A mobilidade aplicada no concelho está a atrair cada vez mais adeptos. A fórmula é simples: integrar num único sistema autocarros, comboios, bicicletas e estacionamento a um preço acessível. 

«Uma cidade onde os cidadãos não se podem movimentar não é uma cidade democrática». Foi com este lema que a Câmara de Cascais apostou numa verdadeira transformação na mobilidade urbana. O objetivo é simples: integrar num único sistema autocarros, comboios, bicicletas e estacionamento com a missão de tirar passageiros do transporte individual e colocá-los no transporte coletivo. Uma ideia que chamou a atenção de um dos assessores do presidente da Câmara de Nova Iorque que quer aplicar este modelo na cidade americana.

O assessor esteve em Cascais durante as Conferências do Estoril e depois de ter experimentado este sistema integrado de transporte pediu à autarquia mais informações para poder executar o mesmo sistema em Nova Iorque, apurou o SOL.

Contactado pelo SOL, Rui Rei, presidente da Cascais Próxima, não quis comentar este interesse, mas reconhece que é um projeto que tem chamado a atenção e «internacionalmente há muitos interessados em querer replicar este sistema», refere.

E lembra que a par da integração da oferta outra vantagem do MobiCascais é o preço que disponibiliza aos utentes. O passe urbano que custava 27,10 euros passou a custar 20 euros, o que representa uma diferença de 26%, enquanto o bilhete de bordo que anteriormente custava entre 1,10€ e 4,15 euros passou a custar um euro, independentemente da distância.

Ao mesmo tempo, a autarquia fechou um acordo com a Scotturb que permite que estas deslocações sejam gratuitas para crianças até 12 anos e pessoas com mais de 65 anos pagam 14,50 euros.

Os preços também são competitivos para quem usa este sistema completando com a oferta de comboio. Para quem for utilizador do MobiCascais também pode estacionar o carro junto das estações e ir até Lisboa de comboio por €48,40 euros, o que representa uma poupança de 12 euros mensais.

«Com estas reduções, a autarquia de Cascais pretende também incentivar a utilização do transporte público uma vez que os transportes rodoviários são alternativa de mobilidade apenas para 8,7% dos cascalenses e ainda poupar dois recursos escassos: tempo e dinheiro», revela a entidade responsável por este projeto.

Já para quem utiliza Carris e Metro, o MobiCascais arranjou também soluções de mobilidade mais rápidas e baratas. «Embora ainda não esteja em vigor, fechou-se acordo com estas duas entidades, permitindo um preço reduzido, com estacionamento incluído», salienta.

Como tudo começou

O MobiCascais surgiu para reforçar a oferta já existente no concelho não só para complementar e integrar serviços já existentes como também para aumentar a oferta e reduzir a carga tarifária para todos. Isto porque tanto a Scotturb como a Cascais Próxima já operavam neste mercado.

E os resultados já são visíveis. Às 25 carreiras municipais operadas pela Scotturb, acrescentou seis: busCas SDR, busCas SDR Norte, busCas SDR Oeste, busCas Estoril, busCas Cascais Hospital e busCas Malveira Hospital (ver mapa). Feitas as contas, representa um aumento de 24% em termos e número de carreiras existente no concelho.

O balanço não podia ser mais animador. com mais de 24.500 quilómetros percorridos, em três meses, foi possível atingir 7.500 passageiros só nas duas primeiras rotas. Além disso, foram reformulados três autocarros desta operadora: buscas, busCas Parede e busCas Alvide (ver mapa).

Para este ano ainda está previsto lançar mais novidades. Vão passar a circular dois meios de deslocação sazonais: o comboio turístico de Carcavelos e o autocarro que permitirá fazer deslocações entre Cascais e Guincho.

Face a esta procura – principalmente para quem opta pelo passe mensal da CP, Carris e Metro – houve a necessidade de segmentar a oferta de estacionamento, «através da criação do estacionamento que tem por principal função assegurar o estacionamento de longa duração dos utilizadores do comboio e do estacionamento de curta/média duração, associado à utilização das bicicletas».

Desta forma já foram construídos/requalificados 30 parques, o que se traduz em mais de 2500 lugares. Estão ainda previstos construir mais quatro parques – Quinta da Carreira, Matarraque II, Junqueiro, Quinta do Barão e Bairro da Torre – como o objetivo de servir de apoio às estações da CP e aos residentes, facultando mais de 650 lugares.

Bicicletas completam oferta

Outra novidade assentou na oferta de uma rede de bicicletas. Depois de terem passado por ajustes mecânicos, trocas de peças e pintura nova, mais de 50 exemplares das biCas foram restauradas e trouxeram outra cor e vida à cidade. «Do restauro à disponibilização da rede de bike sharing foi um instantinho», afirmou a entidade.

O projeto esteve em fase de testes entre setembro do ano passado até ao final do mês de janeiro e, a partir daí, «foi possível aferir quais os meios mais adequados para criar uma oferta que correspondesse às ambições dos munícipes e clientes».

Numa primeira fase, o sistema arrancou com 11 estações de bike sharing. Cascais e Estoril foram as primeiras freguesias onde foi implementado, seguidas de São Domingos de Rana, Carcavelos e Parede e agora Alcabideche.

Neste momento, o primeiro município a integrar a bicicleta no sistema de transportes está a construir 71 estações de bike sharing pelo concelho e que se vão juntar às 13 já existentes.

As metas, de acordo com a entidade responsável, está cada vez mais próxima de atingir os objetivos: concluir 70 quilómetros de ciclovias e ter à disposição dos utilizadores 1.200 bicicletas. A ideia é simples: tornar este meio de transporte cada vez mais recorrente.

E para tornar todo o processo mais simples, ao novo sistema «está associada a tecnologia inteligente, a qual, através de uma plataforma ‘online’ permite informar sobre a disponibilidade de bicicletas e lugares, informação do estado do aluguer, alarme anti-vandalismo e vídeo vigilância», acrescenta.

Entre 2002 e 2016 a autarquia investiu 71,3 milhões de euros em vias de circulação. As bicicletas saíram a custo zero, porque resultaram de parcerias com privados, já os autocarros custam entre 70 e 100 mil euros, mas serão adquiridos com base nas receitas dos estacionamentos.