Remodelação? Cabe a Costa responder de “forma adequada”

Governo e PS reagem com cautela à possibilidade de mudanças no executivo. Carlos César disse que “cabe ao primeiro-ministro responder da forma que entenda adequada do ponto de vista da estrutura e composição do governo”

As principais figuras do governo e do PS reagiram com cautela à possibilidade de uma remodelação que implicaria a saída dos ministros da Defesa e da Administração Interna. O presidente do PS, Carlos César, não fechou a porta a mexidas no executivo e afirmou que cabe ao primeiro-ministro “responder da forma que entenda adequada do ponto de vista da estrutura e composição do governo”.

O ministro Augusto Santos Silva, que está a substituir António Costa durante esta semana, também referiu que “a composição do governo é da responsabilidade do primeiro-ministro”. Santos Silva fez questão de garantir que “todos os ministros e ministras estão em plenitude de funções, a realizar o seu trabalho”. 

O ministro dos Negócios Estrangeiros, numa entrevista à RTP, anteontem à noite, já tinha garantido que “nós necessitamos de conhecer em primeiro lugar o que se passou. Por isso decorrem os inquéritos respetivos, seja ao nível judicial, conduzidos pelo Ministério Público e Polícia Judiciária, seja ao nível administrativo e também em sede da autoridade militar, no caso do exército”. 

A hipótese de uma remodelação no governo foi avançada na edição de terça-feira do i. A CMTV, ontem à tarde, apontou o nome de Jorge Lacão como novo ministro da Administração Interna.

O assunto remodelação foi tema de conversa entre os socialistas durante o dia de ontem. A visita do Presidente da República a Tancos acompanhado por Azeredo Lopes é vista, porém, como um sinal que, para já, o ministro não está em causa. Ao que o i apurou Marcelo Rebelo de Sousa não fez qualquer pressão para que os ministros fossem já substituídos. Mas também não vê inconvenientes se Costa quiser remodelar com brevidade. 

só cds pede demissão O CDS foi até agora o único partido a pedir a demissão de Constança Urbano de Sousa e Azeredo Lopes, na sequência da tragédia em Pedrógão Grande e do roubo de armamento em Tancos. Cristas considerou que os dois “não souberam estar à altura das suas responsabilidades”. 

O PSD não foi tão longe. O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel já defendeu, porém, que a ministra da administração interna deve demitir-se e que mais tarde ou mais cedo isso vai acontecer.

Confrontado com o pedido feito por Assunção Cristas, o secretário-geral do PCP defendeu que “é uma precipitação” e que “não é esse o caminho”. Jerónimo de Sousa considera que primeiro é preciso apurar a verdade e só depois “assumir responsabilidades”. Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, pediu esta semana “responsabilidades políticas” pelos “falhanços” nos incêndios e no roubo de armamento. 

Popularidade

Os especialistas em ciência política não descartam a possibilidade de António Costa mexer no governo. Carlos Jalali entende que “a investigação levada a cabo identifica vários fatores para remodelações, incluindo aspetos que têm a ver com o cumprimento do programa político do governo e fatores partidários internos”. O professor de Ciência Política refere ainda que “quando há casos de elevada saliência mediática e que afetam a popularidade do governo, a demissão dos ministros em causa pode ter um efeito positivo na popularidade do governo”. 

Jalali considera que “a investigação levada a cabo noutros contextos indica que, num mesmo âmbito temático, o efeito de notícias negativas tende a ser maior que o efeito de notícias positivas. Como tal, os acontecimentos em Pedrógão e em Tancos irão ter repercussões. A questão que ainda não é possível avaliar é em que medida este efeito vai incidir sobre o governo”.  

António Costa Pinto realça que “esta sequência de acontecimentos é danosa politicamente para o governo e impede-o de capitalizar as boas condições económicas com algumas medidas mais populares”. 

Costa Pinto refere que os ministros em causa têm “pouco peso político” e isso pode facilitar uma remodelação governamental. Por outro lado, acrescenta o politólogo, “a movimentação militar e o envolvimento do Presidente da República podem ser uma garantia de que, para já, o ministro da Defesa não será responsabilizado”.