PR cancelou agenda à espera de manifestação que não vai haver

Marcelo quis estar em Belém perante o anúncio de que os oficiais do Exército iriam depor espadas 

Na agenda do Presidente da República estava marcada para esta manhã a visita a uma fábrica, mas Marcelo Rebelo de Sousa desmarcou-a para garantir que estaria no Palácio de Belém para receber os oficiais do exército que pretendiam aí depor as suas espadas.

O chefe de Estado não queria deixar os militares perante um palácio vazio quando se preparavam para um ato tão radical que podia pôr em causa as suas carreiras.

A manifestação convocada ontem por e-mail estava prevista para as 11h30 de hoje e visava protestar contra a exoneração temporária de cinco oficiais do exército por causa do roubo de armamento em Tancos. No entanto, a SIC Notícias adiantou ontem à tarde, que o ato havia sido desconvocado.

No final da reunião de ontem da Comissão de Defesa, o seu presidente, Marco António Costa, havia feito o apelo aos militares para cancelarem o protesto: “Nunca se perca de vista que as Forças Armadas são um símbolo importante da unidade do Estado”, disse o deputado do PSD, à saída da reunião que aprovou, por unanimidade, as audições urgentes do Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) e do ministro da Defesa, Azeredo Lopes. Rovisco Duarte será ouvido na quinta-feira, enquanto a audição do ministro fica para sexta-feira.

“Os acontecimentos têm-se sucedido sem uma explicação lógica entre si, mas o parlamento contribui sempre de forma serena e responsável para a manutenção de uma ordem institucional absolutamente impecável”, afirmou o deputado.

Carta aberta 

Em vez da manifestação, os oficiais optaram por enviar uma carta aberta ao PR, onde salientam que “a convocatória de entrega simbólica de espadas foi cancelada por lealdade ao Comandante Supremo das Forças Armadas e aos Chefes Militares que na sua função difícil e no ativo ainda defendem os seus homens”.

Garantindo que o seu protesto não visava pedir a cabeça de ninguém das chefias militares, os oficiais referem que não o fazem por não quererem “seguir o exemplo desastroso de uma classe política que dentro das nossas fileiras deixou de ser respeitada”.

Ontem, a Associação de Oficiais das Forças Armadas demarcou-se do protesto e sublinhou que o CEME utilizou “uma prerrogativa que só a ele lhe cabe”, ao exonerar temporariamente os cinco oficias do exército pelo grave incidente de Tancos.

“Isto é um ato de comando, independentemente de nós concordarmos ou não é um assunto interno do Exército e que não está no âmbito da associação”, disse à Lusa o presidente da AOFA, coronel António Mota.

No Facebook, o comandante das Forças Terrestres, António Faria Menezes também pediu aos oficiais para não levarem avante o protesto.

“O tempo que vivemos exige sentido de Estado, serenidade e responsabilidade aos militares do ativo, reserva ou reforma, todos eles dignos e relevantes no apoio do todo que é Portugal”, escreveu o tenente-general.