Conversa privada entre Trump e Putin no jantar do G20 gera suspeitas

Imprensa americana questiona teor da conversa não registada, apenas ouvida pelo tradutor russo

À volta da mesa, na cidade alemã de Hamburgo, jantavam os líderes das vinte maiores economias mundiais, acompanhados por cônjuges, intérpretes e convidados. Durante o repasto, há cerca duas semanas, o presidente dos Estados Unidos levantou-se do lugar, junto ao primeiro-ministro do Japão, e sentou-se ao lado do seu homólogo russo para trocar ideias. Para além do tradutor de Vladimir Putin, e dos dois intervenientes, ninguém sabe o teor da conversa.

Conversas bilaterais em eventos daquela estirpe não são propriamente notícia, pelo que, à vista desarmada, o episódio em si parece ser pouco relevante. Acontece que a administração Trump está a ser investigada pelo FBI e pelo Congresso dos EUA, devido ao alegado conluio com os russos, estabelecido para prejudicar a campanha de Hillary Clinton durante a longa batalha eleitoral pela presidência americana.

No decurso dessa mesma investigação já caiu um diretor do FBI, foi nomeado um procurador especial, Donald Trump passou a constar da lista de suspeitos e estas aumentaram, em vez de diminuir. 

A conversa informal e não registada com o presidente da Federação Rússia – já depois de um encontro formal entre ambos, no qual o russo garantiu ao americano que o Kremlin não se meteu nas eleições – causou, portanto, estranheza junto dos presentes e, uma vez revelada, deixou a imprensa norte-americana em alvoroço.
Ian Bremmer, o cientista político, consultor e presidente da Eurasia Group, que trouxe o caso para a ribalta, em primeira mão, através de uma newsletter enviada para os clientes da empresa, explicou ontem à BBC que Putin e Trump, falaram “durante cerca de uma hora”, num tom “animado e muito amigável”, que deixou os restantes líderes mundiais “confusos” e “desorientados”.

A Casa Branca confirmou a conversa, através de um comunicado, mas negou que tenha sido “um segundo encontro” e explicou que se tratou apenas de “uma breve conversa no fim de um jantar”. Para além disso, esclareceu que o tradutor de Trump só não o acompanhou porque era intérprete de japonês e não de russo. “Insinuar que se tentou esconder um segundo encontro é falso, maldoso e absurdo”, conclui o comunicado.

O presidente dos EUA também reagiu, no Twitter, às notícias sobre o seu “encontro secreto” com Putin, e apontou a mira aos órgãos de comunicação do país. “As Fake News estão a tornar-se cada vez mais desonestas. Até um jantar organizado para os 20 líderes de topo na Alemanha é transformado em algo sinistro!”, escreveu Donald Trump, já depois de ter rotulado as notícias como “doentias”, num primeiro tweet.