Estudos recentemente publicados demonstram inequivocamente que o futebol movimenta milhões entre receitas e/ou transferências, predominando as 5 maiores ligas da Europa: a inglesa, a espanhola, a alemã, a italiana e a francesa, que deixam todas as outras a elevada distância. Porquê? Muito simples: a televisão paga muito, buscando audiências! E estes investimentos avultados propiciam contratações fantasiosas mas sempre sonantes, para gáudio das multidões. Ao mesmo tempo – com exceção da Espanha, tal o poder do Real Madrid e Barcelona – aparecem os investidores desejosos de ostentarem no seu currículo a posse de clubes mundialmente famosos.
Assim, nestas ligas, dinheiro atrai dinheiro – e nos últimos anos assistimos a uma espiral ascendente nos valores das transferências, sem sabermos onde irá parar esta insanidade. Enquanto houver investidores fascinados com este novo brinquedo, seduzidos pela propriedade de grandes clubes, a roleta vai rolando. E quando as perdas (mais que certas) atirarem os casinos ‘à glória’, ou os magnatas se fartarem, as falências suceder-se-ão. Mas, para já, ‘o circo roda’ e não serei eu a trazer as más notícias.
Claro que a televisão irá continuar a pagar, até porque precisa de audiências. E, pagando enormidades pelos direitos televisivos, impõe as suas leis! Nesta procura de audiências, até manda nos horários dos jogos, como recentemente vimos, com desafios de algumas dessas ligas a serem disputados a horas antes impossíveis. A pensar no novo mercado oriental, sobretudo o mercado chinês, onde até Cristiano Ronaldo se deslocou em clara operação de marketing. Ou, como em Portugal, com horários desencontrados, tantas vezes inconvenientes para os espetadores que fazem da ida aos estádios um ritual sagrado. Mas tudo se aceita – e, se ganharmos, é a cereja em cima do bolo!
As consequências destas loucuras financeiras são óbvias. Nesta época de transferências, Guardiola e o seu City lideram uma lista (quase) obscena dos clubes mais gastadores, atingindo quantias impensáveis. O United de Mourinho também aparece em destaque, com a transferência de Lukaku a ser, por enquanto, a mais dispendiosa do mercado, prometendo pelo menos mais uma contratação: quase de certeza ‘a pescar’ no Real Madrid do seu amigo Florentino, seja Bale ou Kroos, sempre oferecendo De Gea em troca. Mas Mourinho saiu-se com uma frase lapidar: «Antes pagavam-se fortunas por foras-de-série, hoje também se pagam mas por bons jogadores». Dito isto, nada surpreende que se fale em 220 milhões por Neymar ou 180 milhões por Mbappée.
No meio destas fortunas, os clubes formadores, como Mónaco ou Benfica, aparecem bem colocados pelas vendas efetuadas. Mas se o Mónaco tem um Principado que hoje ostenta o título de campeão – permitindo-se realizar, antes da quase certa venda de Mbappée ao Real Madrid, receitas bem acima de 300 milhões –, o Benfica tem apenas sócios apaixonados e encantados por um ‘tetra’. E, quanto a acionistas, não me consta que os atuais existentes injetem as centenas de milhões com que russos, americanos ou chineses alimentam os clubes dos quais se tornaram literalmente donos pela via acionista.
Onde quero chegar? Muito simples: se a democracia no futebol em Portugal é um jogo entre três grandes, com o Benfica a ser o único com Orçamento atualmente bem acima de 100 milhões, estes valores são atingidos com facilidade por qualquer clube da 1ª divisão inglesa. O maior clube português consegue entrar na lista dos 25 clubes mais ricos da Europa, mas é o único.
De resto, é preciso muito engenho para os três grandes suprirem estas discrepâncias financeiras que, pelos vistos, tendem a aumentar, afastando os clubes portugueses das grandes competições. Assim, teremos possivelmente no futuro uma Liga Europeia para as elites, transformando-se as restantes ligas nacionais em regionais, quase como as atuais distritais – que olham para as nacionais com o sonho impossível de lá chegarem.
P.S. – Tantos milhões andam no futebol e até nos esquecemos de tantos cidadãos nacionais, sobretudo os reformados sem outras fontes de receita, realmente preocupados com os tostões que mensalmente amealham. Uns tantos, refugiados na CGD onde recebem as suas pensões, veem esta instituição a seguir caminhos trilhados pela banca privada, como comissões de manutenção de conta, e lá se vão os ‘lautos’ aumentos mensais que decorrem do fim da austeridade decretado por António Costa. Paulo Macedo disse ao que vinha, tal como António Domingues tinha dito! Costa não ouviu?