Venezuela. Geringonça dividida. PCP exige “atitude de respeito”

Socialistas comentam posição do PCP com a garantia de que não é possível ignorar “o sofrimento do povo” e “a dramática situação que se vive na Venezuela”

As eleições na Venezuela estão a dividir a geringonça. O governo considera que não foi dado “nenhum passo para a resolução da crise política naquele país”. O PCP, em comunicado, defendeu, porém, que “a elevada participação nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (…) constitui uma importantíssima mensagem colectiva de defesa da paz, da democracia e da soberania da República Bolivariana da Venezuela”. O Bloco de Esquerda já tinha considerado, pela voz de Catarina Martins, que “não estamos a olhar para uma situação democrática”.

A situação na Venezuela é um assunto delicado perante os muitos portugueses que vivem naquele país. O governo reafirmou que “a crise que atinge o povo venezuelano só poderá ser debelada mediante um compromisso político inclusivo que envolva o regresso à normalidade constitucional e no quadro de um calendário acordado entre as partes”. 
Diferente é a posição dos comunistas que apoiam as eleições para a Assembleia Constituinte e esperam do governo português uma “atitude de respeito pela soberania da Venezuela”. No mesmo comunicado, o PCP “reafirma que é ao povo venezuelano que cabe decidir do seu próprio futuro e da forma de organização do Estado venezuelano”

PS distancia-se do PCP Ao i, o coordenador do PS na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros, Paulo Pisco, distancia-se claramente da posição do PCP e sustenta que “não há nenhum argumento que possa ocultar a dramática situação que vive a Venezuela. É uma situação de tal maneira evidente que não se pode deixar de ter em conta o sofrimento do povo venezuelano. Não concordo com a leitura que o PCP faz sobre esta situação”. 

O socialista defende que “havia um parlamento que era legítimo” e “a Assembleia Constituinte vai ser uma assembleia sem oposição ao governo”. Paulo Pisco entende que este caminho só piora “a situação de violência” e que a melhor solução seria as partes em confronto procurarem um acordo através do diálogo. 

Confrontado com as divergências entre o governo e o PCP, Pedro Nuno Santos, em entrevista à SIC, disse que “este governo tem conseguido no campo internacional e europeu seguir aquelas que são as orientações do PS. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares garante que “essa é uma matéria que está clarificada desde o início” entre o governo e os partidos que o apoiam. “Os nossos parceiros em nenhum momento e anularam e o PS também não”, acrescentou Pedro Nuno Santos. 

A Assembleia da República aprovou, em abril, um voto de  “condenação e preocupação” pelo agravamento da situação na Venezuela. O PCP e o PEV foram os únicos partidos que votaram contra. No mesmo dia, os comunistas apresentaram um voto de repúdio pelas “acções de ingerência e desestabilização têm vindo a ser incrementadas procurando instrumentalizar sectores da população venezuelana, tirando partido de dificuldades e efeitos negativos sentidos pela economia venezuelana resultantes em grande medida da baixa dos preços do petróleo e da crise económica que se faz sentir ao nível mundial”.