A lota de Matosinhos já “matou” um candidato: António Sousa Franco

António Parada foi um dos responsáveis pelo acontecidona lota de Matosinhos em 2004. A sua expulsão foi proposta,  mas nunca aconteceu

António de Sousa Franco, ex–ministro das Finanças, ex-presidente do Tribunal de Contas, antigo líder (por pouquíssimo tempo) do PSD, morreu muito jovem, em 2004, aos 61 anos. Morreu logo a seguir a uma ação de campanha quando era cabeça-de-lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu.

E o que foi essa ação de campanha? Uma visita à lota de Matosinhos. As lotas e os mercados  fazem parte do roteiro habitual das campanhas eleitorais, mas aquela não foi uma ação normal. A profunda guerra fratricida existente em Matosinhos, onde Narciso Miranda e o seu antigo n.º 2 Manuel Seabra estavam envolvidos numa guerra fractricida, acabou num momento de absoluta loucura com as respetivas “claques” dos dois dirigentes locais envolvidas em confrontos. À saída do espetáculo dantesco da lota, o professor de Direito teve um ataque cardíaco. Morreu antes de chegar ao hospital. 

Na época, Manuel Seabra (falecido em 2014) era o líder da concelhia socialista do Porto e Narciso Miranda presidente da Câmara de Matosinhos. Os dois estavam numa guerra sem quartel. Narciso decide aparecer no hotel e foi convidado por Marcos Perestrelo a acompanhar Sousa Franco de carro do hotel até à lota. 

António Parada era o coordenador da secção do PS Matosinhos e, segundo o relatório do inquérito feito pelo PS aos acontecimentos da lota, foi logo dos primeiros a iniciar a agitação.  Segundo o relato do PS: “O coordenador da secção do PS de Matosinhos, António Parada, em atitude de envolvimento impetuoso, de imediato pretendeu afastar o Professor Sousa Franco de Narciso Miranda, dado que aquele se encontrava agarrado a este para melhor poder ser conduzido. Desta acção resultou uma quase queda de Narciso Miranda e um acentuado desequilíbrio do Professor Sousa Franco, circunstância que contribuiu para o rápido aumento da tensão geral, para uma tentativa de agressão por parte de um dos presentes, usando uma haste de bandeira num movimento sustado por outro mas que, potencialmente, poderia ter atingido qualquer das figuras presentes”. 

A entrada na lota começou mal.   A comissão de inquérito apurou  também que as peixeiras estavam “enquadradas” para expressarem “hostilidade a Narciso Miranda. Vários depoimentos ouvidos pela comissão de inquérito concordaram que essa hostilidade  foi especialmente encorajada ou até orquestrada pelo principal agente coordenador da acção da visita à lota, o presidente da secção de Matosinhos do PS, António Parada, que aliás trabalha para uma empresa de segurança que presta serviços à lota de Matosinhos”.

Parada não largou Sousa Franco, diz o relatório do PS. “Em vários momentos do trajecto, o Professor Sousa Franco, submetido desde o início à pressão dos acontecimentos, tal como se relatam, voltava a ser fortemente interceptado e incomodado por António Parada, sempre com o propósito de o afastar de Narciso Miranda e, também, de fazer colocar, em posição supostamente privilegiada junto deste, e consequentemente destacada para efeitos mediáticos, a pessoa de Manuel Seabra”. 

A comissão de inquérito acaba por censurar Narciso por, ao tornar-se o “acompanhante privilegiado” de Sousa Franco, “nada ter contribuído para o apaziguamento das rivalidades latentes”. A comissão considera que nem Narciso Miranda nem Manuel Seabra têm condições para serem candidatos nas autárquicas seguintes à Câmara de Matosinhos. 

Quanto a António Parada, foi proposta a sua suspensão de militante do PS, abrindo-se a porta a uma possível expulsão. Não aconteceu. Parada deixou agora o PS pelo seu próprio pé.