Urge aumentar os políticos!

Uma das teclas mais sensíveis da nossa sociedade é realmente o vencimento baixo dos nossos governantes. Em tempos, houve a preocupação clara de lhes dar benefícios de reforma de forma totalmente abusiva face aos contribuintes em geral mas nunca houve verdadeira coragem de mexer no essencial: os seus vencimentos, manifestamente baixos face ao mercado de…

Aquando da nomeação dos administradores da CGD muito se discutiram os seus vencimentos por serem considerados manifestamente desajustados à realidade nacional. As argumentações dos responsáveis do Governo não acolheram quaisquer apoiantes na opinião pública mas António Costa, e muito bem, manteve os valores acordados com os indigitados. O argumento essencial foi um muito elementar e, na minha opinião, perfeitamente justo: valores equiparáveis ao mercado.

Em tudo é assim, ou seja, se queremos os melhores temos de pagar valores equiparáveis ao mercado. Se este é justo e retribui acima do valor razoável ou mesmo acima dos benefícios gerados pelos usufrutuários, são contas absolutamente pertinentes de fazer e têm de se fazer. Por exemplo, quem não se recorda da nomeação de Paulo Macedo como diretor-geral dos Impostos e o sururu então gerado pelo seu chorudo salário? Mas, no momento da saída, não houve quem, naquela Direção-Geral, desse o dinheiro por mal empregue, porque bem mereceu tudo o que ganhou (aliás, como sempre sucedeu em todas as funções públicas que exerceu, como a de ministro da Saúde, em que apenas lhe faltou ser de esquerda para o reconhecimento unânime de um governante de eleição!).

O tema no Estado não está em saber se o valor pago é muito ou pouco – mas sim, se o valor gera benefícios para os contribuintes. Esta tem de ser a medida de aferição, aliás a única possível. No Parlamento, as estatísticas publicadas das intervenções (apenas falo em métricas quantitativas!) revelam bem o desperdício de dinheiros que para ali vai (e sem falar de mordomias como refeições pagas por valores simbólicos). Metade, ou quase, daquela gente não faz qualquer falta no Parlamento, sobretudo os ligados aos partidos mais representativos. Votam por obrigação partidária (quando não se lembram de faltar com total impunidade) e pouco mais. Em suma, um dos exemplos clássicos em que se deveria reduzir o número de deputados aumentando claramente os vencimentos dos eleitos para atrair qualidade aos nossos representantes.

Uma das teclas mais sensíveis da nossa sociedade é realmente o vencimento baixo dos nossos governantes. Em tempos, houve a preocupação clara de lhes dar benefícios de reforma de forma totalmente abusiva face aos contribuintes em geral mas nunca houve verdadeira coragem de mexer no essencial: os seus vencimentos, manifestamente baixos face ao mercado de trabalho para as responsabilidades exercidas. Desta forma, os atuais vencimentos e a total exposição pública a que se sujeitam (com a vida privada totalmente devassada) não atraem os melhores à causa pública. Quantas vezes nesta nossa democracia de 43 anos, sobretudo nestas últimas duas décadas, vemos tantas figuras gradas dos partidos aparecerem em público a secundarem os líderes nas vésperas de eleições mas na hora de se chegarem ao Governo fazem o manguito de Rafael Bordallo Pinheiro?

Sei bem que, mesmo assim, alguns dos nossos melhores ‘se chegam à frente’ com a consciência do dever da causa pública e de imediato sobressaem entre os demais. Infelizmente, são demasiado poucos. Por isso, entendo ser fundamental ter a coragem de discutir o tema e mexer nos vencimentos dos políticos porque apenas assim atraímos os melhores da nossa sociedade! A todos os níveis, desde as freguesias até ao Governo. Até para assegurar a exclusividade, tema particularmente sensível no Parlamento como nas freguesias e municípios. Quando falamos do Governo (ou Presidência) para mim o escândalo nunca pode ser quanto se ganha na CGD por comparação ao Governo. Tem de ser exatamente o contrário: quão pouco se ganha no Governo (ou Presidência ) por comparação à CGD!

Claro que muitos dirão se houver a coragem de se discutir a questão que ‘lá estão os políticos a defender os seus interesses’. Há uns largos anos, num agradável almoço entre amigos com destacado dirigente do PS, ele me referiu taxativamente: «Nem pensar! Quem ousar mexer no assunto fica queimado na opinião pública». Provavelmente até tem razão. Ainda acrescentou com total pertinência: «Também não garantes que tais aumentos incentivem ou atraiam esses que estando bem pagos na vida privada e tantas vezes comodamente instalados venham para a causa pública».

A verdade é que nada mudou até hoje. No entanto, eu insisto na discussão pública deste tema visando adequar os vencimentos ao mercado, tal como e bem se fez na CGD. Ao contrário do que se diz, a qualidade das nossas pessoas e dos nossos políticos não desapareceu: apenas tem de haver incentivos para os melhores de entre nós saírem das suas zonas de conforto e se chegarem à frente! O país precisa dos nossos melhores em todas as áreas e claramente esta necessidade sobressai no dia a dia da nossa governação, a todos os níveis, desde a freguesia até ao Governo!