Autoeuropa. Empresas fornecedoras criticam protagonismo de sindicatos

A fábrica de Palmela – que é dada, muitas vezes, como exemplo de negociação laboral – enfrenta uma crise laboral como há muito não se via

As empresas fornecedoras da Autoeuropa não estão a ver com bons olhos a greve agendada para hoje na fábrica de Palmela. A explicação é simples: sempre que esta unidade industrial treme, as empresas que estão à sua volta e que dela dependem também tremem. “Sempre que há uma reviravolta as empresas fornecedoras são atingidas”, garante ao i o responsável de uma dessas unidades.

Também a coordenadora das comissões de trabalhadores do Parque Industrial de Palmela, que conta com quase duas dezenas de empresas fornecedoras da fábrica Autoeuropa, está contra esta paralisação, que diz resultar do desejo de protagonismo dos sindicatos. “A comissão de trabalhadores da Autoeuropa demitiu-se e reuniu-se para eleger uma comissão eleitoral em 28 de agosto a fim de garantir o processo eleitoral previsto nos estatutos, enquanto o Sitesul convocou uma reunião plenária de trabalhadores para o mesmo dia”, afirma.

A comissão lembra ainda que “neste complexo industrial, os sindicatos sempre estiveram numa posição de segundo plano em relação às comissões de trabalhadores e a partir do momento em que têm uma oportunidade para ganhar protagonismo o que é colocado ao serviço dos Trabalhadores? Greve! Apelamos a, mais do que esmiuçar divergências, que se esclareçam os trabalhadores e não se confundam. Está muito em causa, mais do que interesses financeiros”, alerta.

A coordenadora diz ainda que ao longo de mais de 20 anos de diálogo social foram sempre encontradas soluções, não apenas para os Trabalhadores da Autoeuropa mas também para os trabalhadores do Parque Industrial e defende “que quaisquer decisões tomadas na Autoeuropa terão efeitos nas empresas e no Parque Industrial”.

Crise laboral A verdade é que a fábrica de Palmela está a braços com uma crise laboral como há muito não vivia. Nos últimos anos, todos os braços-de-ferro como estes têm sido resolvidos. As soluções encontradas pela administração e pela comissão de trabalhadores – que durante muito tempo foi liderada por António Chora, que saiu no início deste ano da empresa depois de se ter reformado – ao longo dos anos permitiram garantir a paz social e a manutenção dos postos de trabalho na fábrica de automóveis de Palmela, mesmo nos períodos de crise no setor automóvel, bem como no momento crítico do escândalo das emissões que abalou a Volkswagen.

A administração da empresa ao longo dos vários anos tem vindo a pedir para flexibilizar o tempo de trabalho, dando como exemplo fábricas do grupo alemão a trabalharem abaixo da capacidade instalada e com espaço para absorverem a produção da unidade de Palmela. A empresa defende-se sempre dizendo que não é uma ameaça, mas um risco.

A história da fábrica fica ainda marcada pela “guerra” das classes dos monovolumes produzidos em Palmela com o Governo português, na altura em que o ministro da Economia era Carlos Tavares, ex- presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Tratava-se de uma promessa antiga do Executivo, mas que só passou à prática em 2004. A passagem para a Classe 1 era uma pretensão antiga da Autoeuropa, que exigia para os seus monovolumes um tratamento igual à concorrência direta – Opel Zafira, Renault Scénic e Voyager da Chrysler.

A Autoeuropa apontou, na altura, o pagamento das portagens como um dos principais motivos da quebra de vendas dos seus veículos no mercado nacional. Apesar destas incertezas, a empresa é frequentemente dada como um exemplo de negociação laboral. A comissão de trabalhadores chegou há uns anos a acordo com a administração para a implementação de ‘down days’ – dias de paragem da fábrica pagos exclusivamente pela empresa – à custa de dois anos sem aumentos salariais (de 2003 a 2005).