António Chora, Contra o assalto ao Castelo de Palmela

Trabalhou quase 50 anos e tornou-se conhecido do grande público pela paz laboral que conseguiu alcançar na Autoeuropa. O seu afastamento coincidiu com os conflitos laborais na empresa de Palmela.

Com 12/ 13 anos, quando trabalhava nas obras, carregava sacas de 10 e 15 quilos como se fosse adulto, mas não fala desse tempo com mágoa. Começou a fazer descontos para a Segurança Social aos 14 e reformou-se este ano, provocando uma pequena tempestade com a sua aposentação. Afinal, a Autoeuropa, onde foi líder da comissão de trabalhadores, nunca teve uma greve no seu consulado e passados poucos meses da sua retirada, a empresa parou a produção durante um dia. E como viu António Chora a paralisação? «É claramente o assalto ao castelo [pelo sindicato SITE Sul] e a tentativa do PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados. Mas isso tem sido a prática ao longo dos anos», disse ao Negócios.

Mas vamos à história da greve da Autoeuropa. Tendo a Volkswagen decidido apostar na produção do novo modelo T-Roc em Palmela, contrataram-se mais dois mil trabalhadores que, juntamente com os já existentes, trabalhariam em sistema de rotatividade durante seis dias. Isto é: quem trabalhasse ao sábado receberia por isso e gozaria um dia de folga durante a semana, além do domingo. O sindicato aproveitou o vazio criado pela demissão da comissão de trabalhadores que sucedeu a Chora, depois de num plenário os funcionários terem optado pela greve contra o trabalho ao sábado.

Tudo não passaria de uma greve legítima – que o foi – se os postos de trabalho criados para a feitura do T-Roc não ficassem em causa: «Eu já vi isto em 2005 e 2006 na Volkswagen em Pamplona e na Seat em Barcelona._Num caso não foram admitidos trabalhadores, noutro caso foram para a rua (…). Se a VW não conseguir produzir os automóveis aqui, há de produzi-los noutro lado», acrescentou ao Negócios.

A Autoeuropa é uma das maiores empregadoras do país e as suas exportações são fundamentais para manter um equilíbrio nas contas públicas. Se o projeto ficar em causa por greves e mais greves, espera-se que o sindicato que está por detrás destas manobras possa compensar os trabalhadores que ficarem no desemprego. Afinal, a vida das pessoas é bem mais importante do que as jogadas políticas. António Chora, que chegou a ser deputado do Bloco de Esquerda, disse esta semana à TSF: «Se não me tivesse reformado, esta greve estava desconvocada». Acredito que sim, para bem de todos os trabalhadores e do país.