O sorriso de Centeno a caminho do Eurogrupo

A ideia de que a Europa vai mudar pela ação do ministro Centeno é ilusória e aumenta os problemas dentro da solução de Governo

N unca como ontem o ministro das Finanças foi tão claro sobre as suas intenções de se deixar catapultar para a presidência do Eurogrupo, instituição que o inominável Djiesselboen dirigirá até janeiro. O homem já tem programa e a nomeação pelos seus pares parece garantida. O Governo português apoiava a pré-candidatura do ministro espanhol das Finanças Luis de Guindos, mas Guindos será guindado a vice-presidente do Banco Central Europeu – substituindo o ‘nosso’ Vítor Constâncio que acaba o mandato no ano que vem.

Tudo indica que haverá uma troca ibérica que, à semelhança do que está a acontecer com «as conversas» que Centeno assumiu ontem estar a ter com os seus parceiros europeus, decorrerá com «enorme tranquilidade». Percebe-se que as coisas já estão praticamente decididas quando Centeno diz em público, aos jornalistas, sem grandes reticências:  «Temos um projeto que, partindo daquilo que são os pontos fortes da economia portuguesa e da nossa sociedade, se possam também eles transmitir e passar para os valores europeus». 
Portanto, pelo que se lê, o programa de Centeno para liderar o Eurogrupo passa por seduzir os parceiros europeus para a

espécie de ‘austeridade de rosto humano’ que o Governo PS, com o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP, fundou em Portugal. Se Centeno conseguisse impor o seu programa seria uma mudança radical relativamente ao mandato castigador para os europeus do sul do holandês (misteriosamente socialista) Dijsselboem. Exportar algumas das boas coisas da geringonça seria mudar a Europa. E Centeno parece acreditar, um tanto ou quanto ingenuamente, que isso é possível.

M as não é. A ideia que os males da Europa radicam em três ou quatro maus da fita – tipo Dijsselbloem ou Schäuble – é falsa. Dijsselboem e o ministro alemão das Finanças podem ser os ‘bujardeiros’ de serviço, mas o que dizem correspondem estritamente àquilo que defende a maioria do Eurogrupo. Portugal só é festejado na Europa porque cumpriu o que Bruxelas mandou. A ideia de que a Europa vai mudar pela ação do ministro Centeno não só é ilusória como pode aumentar os problemas dentro da solução de Governo. Apoiar em Lisboa o Governo de Bruxelas tornar-se-à para Bloco e PCP cada vez mais duro. E convenhamos que já é muito duro.