Montenegro e Rangel fora de cena por razões pessoais

Primeiro Luís Montenegro, na quinta-feira à noite, depois Paulo Rangel, ao final da manhã do dia seguinte: um e outro dizem não ter condições para assumir uma candidatura à liderança do PSD. E ambos prometem manter-se neutrais.

 Em apenas 12 horas, o PSD perdeu dois dos seus principais candidatos à liderança. Luís Montenegro, primeiro, Paulo Rangel, logo a seguir, comunicaram que não estão disponíveis para disputar as eleições directas. Luís Montenegro – o mais próximo do ‘passismo’ entre os putativos candidatos – disse, na quarta-feira, que estava a ponderar se avançava e decidiria depois de ouvir «muitas pessoas».

Não precisou de muito tempo para refletir e, um dia depois, no feriado do dia 5 de Outubro, quase à meia- noite, fez saber, em comunicado, que «por razões pessoais e políticas não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito». Montenegro, se quisesse avançar, contava com o apoio de sociais-democratas com influência no aparelho, como Miguel Relvas. Tinha ainda a vantagem de herdar os apoios de Passos, depois de ter sido líder parlamentar do partido durante tempos difíceis para o PSD com a troika no país.

Até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou «as qualidades invulgares» de Montenegro e previu «muitos sucessos políticos». É sabido que o ex-líder parlamentar do PSD tem ambições políticas e quer vir a liderar o partido, mas prefere guardar-se para 2019. Montenegro tenciona participar ativamente no debate interno. Não vai, no entanto, apoiar nenhuma candidatura e manterá «total equidistância». Com Montenegro fora da corrida, os holofotes viraram-se para Paulo Rangel.

O eurodeputado social-democrata passou a ser visto como o mais capaz para enfrentar Rui Rio. Rangel, que já disputou a liderança do partido com Passos Coelho, há sete anos, não cedeu às pressões e anunciou, nesta sexta-feira, que não avançaria «por razões familiares». Rangel justifica decisão com razões de ordem familiar «Infelizmente, e independentemente das condições políticas subsistentes, por razões de ordem familiar, que tentei solucionar ao longo dos últimos dois dias, nas atuais circunstâncias, afigura-se inviável a apresentação dessa candidatura», explica Paulo Rangel, numa nota enviada à agência Lusa. O social-democrata tem no currículo dois bons resultados eleitorais à frente das listas do PSD para o Parlamento Europeu.

Da última vez, em 2014, não venceu, mas, apesar das duras medidas de austeridade, ficou perto do PS. Ao ponto de provocar uma crise interna entre os socialistas que levou à queda de António José Seguro. Um resultado que, nessa noite, António Costa classificou como «poucochinho». Uma campanha dura com ‘ataques pessoais’ A entrada do eurodeputado do PSD em cena fazia prever uma campanha ‘dura’. Pacheco Pereira avisou mesmo, no programa Quadratura do Círculo (SIC), esta semana, que vinha aí uma campanha sem precedentes no PSD com «ataques pessoais» e muitos «insultos».

Pacheco Pereira defendeu que «o que está em jogo é saber se há candidatos que possam recentrar o PSD». No mesmo dia, no seu comentário, na TVI, Manuela Ferreira Leite considerou que a saída de Passos Coelho da liderança é «uma grande oportunidade» para o PSD ter «um projecto que ocupe o centro». A ex-líder do partido, que várias vezes criticou as opções do Governo nos tempos de Passos Coelho, entende que «o centro está vazio», porque o PS «colocou-se à esquerda» e «o PSD atual está colado à direita.

O centro está vazio e precisa de ser ocupado». Rangel elogiado por Passos e Marco António Costa Não faltaram, ao longo da semana, incentivos a Paulo Rangel para avançar. Pedro Passos Coelho foi o primeiro, no discurso de despedida, a fazer-lhe uma referência especial e a destacar a «importância que teve para o partido quando, em 2014, aceitou ser cabeça de lista às europeias».

Marco António Costa, num comentário na SIC, também não lhe poupou elogios. Destacou a sua «competência irrepreensível» e o «comportamento irrepreensível ao longo de todo este tempo no plano interno. Nunca causou nenhum transtorno ao trabalho do partido e ao trabalho dos Governos do PSD». O eurodeputado do PSD também não irá apoiar nenhuma das candidaturas à liderança do partido nas próximas eleições diretas. «Manterei naturalmente uma neutralidade relativamente a essas eventuais candidaturas», garantiu Rangel, agradecendo os apoios que recebeu.