O temor não é só distrital ou estrutural. A candidatura de Rui Rio a presidente do PSD vem causando receios no aparelho do partido desde que Pedro Passos Coelho anunciou que não se recandidataria à liderança do mesmo.
Rio, que é apoiado por figuras da velha guarda como Manuela Ferreira Leite e José Pacheco Pereira, causa essa apreensão na estrutura atual. Por um lado, pelas divergências manifestas que tem com Pedro Passos Coelho – o antigo presidente da Câmara do Porto iria a congresso com ou sem Passos, ou, pelo menos, mostra que sim -, por outro lado pelo facto de estar rodeado por figuras que criticaram acerrimamente o PSD nos seus últimos sete anos de vida. Se o i já noticiara que os dirigentes distritais que ascenderam ao cargo durante o consolado de Passos temiam a vinda de Rio e uma eventual purga, o receio dessa ‘limpeza’ interna não se dissipou nos últimos dias. Bem pelo contrário. Alastrou. Até ao grupo parlamentar.
Vida curta
Liderado há escassos meses por Hugo Soares, que sucedeu a Luís Montenegro, mantendo todos os seus vice-presidentes de bancada, o seu primeiro mandato pode tornar-se breve, caso seja Rui Rio a ganhar o congresso.
O i sabe que uma vitória do nortenho não é vista com bons olhos pela direção de bancada devido à mudança que este pretende a nível interno para o partido e que já há inclusivamente vices de Hugo Soares a preparar “a vida para depois de Rio”.
Não é certo, claro, que o único candidato que o partido tem (até agora) para suceder a Passos triunfe. Há um potencial candidato a ganhar força – Pedro Santana Lopes – que não é um herdeiro do ‘passismo’, “mas não é alguém que o queira matar à força toda”, ironiza um deputado social-democrata, ao i.
Mas se, por exemplo, Luís Montenegro optou por não arriscar suceder a Passos Coelho para não correr o risco de incoerência que qualquer quadro do passismo teria caso mudasse de discurso, há mais ‘passistas’ a temerem o reposicionamento que um partido retransformado lhes impingiria. “Repare: eu estou há seis anos a defender o mesmo homem [Passos], a defender as mesmas ideias, o mesmo projeto para o país. O que é que me acontece se alguém chega e vira isso ao contrário? Deixo de falar? É que não cabemos todos na última fila”, exemplifica o mesmo parlamentar ‘laranja’ ao i, na senda de que grandes mudanças a nível ideológico ou estratégico (ver página a seguir) podem causar imobilidades políticas entre os 89 deputados eleitos pelo PPD/PSD.
É nesse sentido que, sabe o i, Passos Coelho pode não abandonar o parlamento sozinho.
Alguns dos quadros mais próximos da sua liderança estão, neste momento, a ponderar sobre a possibilidade de uma renúncia ao mandato parlamentar após o próximo congresso, que coroará o novo presidente do PSD. A palavra de ordem, seja na direção de bancada, seja em restantes fiéis, é aguardar para ver. Mas a chegada de Rui Rio tornaria tudo “um nadinha mais inevitável”, conclui o ‘laranjinha’, ainda à conversa com o i. Até às diretas de dezembro, será esse o tabu interno.
Santana, Marcelo e Belém
Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa estiveram na mesma sala e não disseram uma palavra sobre o partido de que ambos são históricos: o PSD. Pode parecer bizarro, mas o Presidente da República garante que aconteceu. “O objetivo era, obviamente, falar de um tema que tem a ver com o cargo que desempenha, só isso. Falámos do sistema financeiro português”, disse ontem o chefe de Estado, que recebeu Santana Lopes numa altura em que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pondera recandidatar-se a um cargo que já ambos ocuparam.
“O encontro estava combinado há cerca de três semanas e entendemos que não havia razões para o cancelar”, disse, por sua vez, Santana Lopes, ao semanário “Expresso”.
Na noite de ontem, o Conselho Nacional dos sociais-democratas marcou a data das eleições diretas para a liderança e a data do congresso que a consumará. Rui Rio já é candidato. Pedro Santana Lopes (ainda) não.