‘Irmãos ciganos’ e ‘seguranças da noite’

Nesta semana foram notícia dois bárbaros ataques de dois alegados irmãos, em Coimbra, a um empregado de restaurante e a um jovem casal de namorados e, em Lisboa, de seguranças de uma discoteca a outros dois jovens.

As agressões foram gravadas por testemunhas presenciais que divulgaram os vídeos nas redes sociais. 

Em ambos os casos, as imagens dos agressores a pontapearem as vítimas na cabeça são chocantes.

Em ambos os casos, em Coimbra como em Lisboa, as vítimas já estão prostradas no chão, se não mesmo inanimadas, e os agressores continuam a pontapeá-los.

Em ambos os casos, as vítimas são também quem se intrometeu entre agressores e agredidos procurando evitar a continuidade do crime ou simplesmente prestar auxílio a quem se encontrava caído no chão.

A violência é tal que, seja o que for que as vítimas possam ter feito, é absolutamente injustificável. 
E, sempre, liminar e exemplarmente condenável.

O que se passou em Coimbra, junto a um drive-in da McDonald’s, com dois indivíduos identificados como sendo de etnia cigana a agredirem primeiro um funcionário do restaurante e depois o rapaz e a rapariga que procuraram chamá-los à razão, e em Lisboa, com atléticos seguranças da discoteca Urban Beach a esbofetearem, esmurrarem e pontapearem dois jovens bem mais franzinos, não são, infelizmente, casos raros (o Ministério da Administração Interna ordenou entretanto o encerramento da discoteca porque, só este ano, já havia registo de 38 queixas por abusos de seguranças).

Um princípio basilar no jornalismo inibe a referência a etnias ou classes sob pena da generalização ser  confundível com discriminação, racismo, xenofobia.

Não é disso, porém, que se trata. 

Nem, muito menos, de dar razão ao discurso populista de André Ventura na campanha para Loures.

Nesta semana também, Donald Trump apelou à pena de morte para o autor do ataque terrorista que vitimou mais de uma dezena de cidadãos inocentes que circulavam numa ciclovia de Nova Iorque. Um homem (sendo terrorista nunca se trata por jovem) de 29 anos, natural do Uzbequistão, com ligações ao Daesh.

Se a execução tivesse ocorrido no local, como é recorrente em ataques do género e face à necessidade de impedir outras mortes, ninguém se escandalizaria – trata-se de ação direta, legítima defesa ou estado de necessidade óbvio. Ora, o apelo de Trump foi no dia seguinte ao do atentado terrorista, mas também não ecoaram os protestos dos movimentos costumeiros. 

PorVentura, os defensores da condenação à morte deste assassino de cidadãos inocentes serão hoje muitos mais do que alguma vez foram.

Como serão muitos os que julgam os comportamentos animalescos dos dois indivíduos de Coimbra e dos seguranças do Urban Beach merecedores da mais severa das penas.

E são, mas a mais severa das penas, numa sociedade evoluída e com princípios morais e de Direito, nunca deverá ir ao ponto da irrevogabilidade.

No erro, será sempre mais desumano condenar um inocente do que absolver um culpado.
Até porque só o primeiro não é corrigível.

Mas os bons princípios do Direito, da Ética e da Moral não podem servir para que a sociedade seja tolerante e benévola com comportamentos desviantes, animalescos ou de violência extrema.

A sociedade exige Justiça.

Efetiva. Dissuasora. Mas também punitiva.

Não se pode, de facto, generalizar, mas querer fazer crer que não existe uma cultura própria em algumas comunidades ciganas que se julgam à margem do cumprimento da lei nem uma quase máfia entre os seguranças privados – não só em discotecas e clubes noturnos, mas principalmente entre estes – é pretender tapar o sol com a peneira e contribuir para que cenas como as de Coimbra ou do Urban Beach continuem a repetir-se.

E repetem-se país fora.Por um lado, porque os ‘donos da noite’ convivem bem com empresas de segurança albergues de hordas de mentecaptos de força bruta que se acham com autoridade para ditarem as regras e fazerem ‘justiça’ com as próprias mãos e pés, quando não também com bastões e armas de fogo.

Por outro lado, porque, muito embora seja incorreto dizê-lo ou escrevê-lo, há  comunidades que se regem por padrões culturais e sociais que (ao contrário dos comuns e impunemente afrontando-os) desvalorizam o respeito pela integridade física e pela vida humana – e daí a recorrência das agressões com violência extrema e recurso inclusive a mortíferas armas brancas ou de fogo.

E repetem-se desde há muitos anos e muito mais do que vem a público. Até porque, na esmagadora maioria das vezes, os jornalistas autocensuram-se. Para que, no final, não sejam eles, e os seus órgãos de informação, os condenados.