Jaime Marta Soares. Um soldado da paz que gosta de guerra

Já fez de tudo um pouco, mas adora o fato de líder da Liga dos Bombeiros Portugueses. Achando-se acossado, ameaçou o Governo que levará os soldados da paz para a rua para não perderem a frente dos incêndios florestais.

Há uns bons anos um anúncio ficou na memória de todos aqueles que o viram mais de duas vezes: dizia o reclame, era assim que se falava, que o Citroen Dyane, o sucessor do Dois Cavalos, «gasolina mal precisa, oficina nem falar». Tantos anos depois, há um personagem que nos transporta para esse anúncio: Jaime Marta Soares, o homem que dá a cara pelos bombeiros voluntários. Não precisa que ninguém o empurre e muito menos fica encostado às boxes, basta darem-lhe um microfone e lá vai um chorrilho de verdades, segundo a sua cartilha. Confesso que lhe acho alguma graça por, do alto dos seus 74 anos, não se amedrontar com nada, embora muitas vezes me faça lembrar uma figura mítica, esta de banda desenhada, Lucky Luke, o cowboy que disparava mais rápido do que a sua própria sombra.

Marta Soares ficou com os cabelos em pé quando soube que o Governo pretende destinar aos bombeiros, no que aos fogos diz respeito, a função de zelar pela defesa das povoações, das pessoas e dos bens, deixando aos bombeiros profissionais e a outros o combate aos fogos florestais. Ouvindo esta intenção do Governo, qualquer pessoa pensaria que a equipa de Marta Soares teria ficado contente.Afinal, os soldados da paz têm de acudir aos desastres, às urgências médicas, levar idosos para os lares e para as consultas e para um sem fim de atividades que lhes preenche e muito o dia a dia. Seria natural que Marta Soares concordasse em não sobrecarregar os seus bombeiros com mais uma tarefa enorme que é a de combater os incêndios de grandes proporções.

Mas por que razão o líder da Liga dos Bombeiros Portugueses não só discorda da medida como ameaça levar o seus homens para rua? Mas que chefe é que quer mais trabalho para os seus homens se eles já têm tanto? 

Jaime Marta Soares tem uma vida preenchida: foi presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares uma carrada de anos, jogou futebol nos distritais, a guarda-redes, fundou um jornal, foi chefe de filarmónicas, de aeroclubes e até tem brevet de piloto, e é presidente da Assembleia Geral do Sporting. Mas nada disso conta quando lhe mexem nos privilégios de líder dos bombeiros. 

Marta Soares não quer perder poder e por isso ameaça com tudo o que tem à mão. «Nunca nos queira ver nas ruas por outras razões, mas não temos medo de o fazer, se não nos respeitarem», disse, ameaçando o primeiro-ministro. Faz algum sentido esta atitude? Nenhum!