Das guerras da política aos incendiários do futebol

A esquerda considera a dívida‘insustentável’. Mas há de ser sempre insustentável, se não fizermos um esforço coletivo para a diminuir

Na semana passada, após ter enviado o artigo, fui surpreendido pela guerra entre o PS e o Presidente da República.

Em tempos de bonança, nunca esperei que no PS se lembrassem de desembainhar armas, ainda por cima contra Marcelo, um Presidente com uma popularidade inaudita, também por causa da sua intervenção sobre a desgraça que foram os fogos.

Muito se falou nestes ataques inusitados, pelo que não adianta insistir no tema, mas não quero deixar de olhar para isto sob outro prisma. Devo dizer que admiro as pessoas que ‘dão a cara’. Discordando ou concordando com o teor das respetivas intervenções, respeito sempre quem assume frontalmente as suas ideias, casos de João Galamba, Porfírio Silva ou Simões Ilharco (no Ação Socialista).

Mas fico revoltado com ‘quem lança pedras e esconde a mão’, refugiando-se no anonimato. E fico ainda mais preocupado quando isso sucede ao mais alto nível. Pergunto: quem terá lançado a ideia do ‘desconforto governamental’ perante o discurso de Marcelo, identificado pelo jornal Público apenas como «fonte governamental»? Então, o Dr. António Costa permite este tipo de ataques anónimos dentro da sua estrutura de Governo? Permite estas falhas de caráter dos que devem dar públicos exemplos de ética? Se de hoje para amanhã saírem cá para fora outras notícias semelhantes, será o primeiro-ministro tão indulgente com fontes anónimas que são internas?

Entretanto, vamos sabendo que o Governo continua, no seu OGE 2018, a distribuir benesses cujos impactos estruturais vão muito para além desta legislatura.

Andamos em anos de vacas gordas, com um PIB a crescer a valores históricos, e estes superavits financeiros, em vez de corrigirem os défices de anos anteriores – como mandam as boas regras de gestão financeira –, vão sendo distribuídos entre reformados, admissões na Função Pública (agora os precários), progressões na carreira, promessas de admissões de novos professores, etc. Isto é: a emoção da esquerda prevalece sobre a racionalidade da  gestão.

Recentemente, lemos no Expresso Daniel Bessa a escrever sobre o tema, citando Keynes e as suas políticas de longo prazo. E, embora em tom mais discreto, vamos ouvindo outras figuras gradas da área da Economia defendendo o ‘défice zero’ ou superavits que possibilitem um rápido amortizar de uma dívida que a esquerda considera insustentável.

Ora, como é que a dívida não há de ser insustentável se não fazemos um esforço coletivo para a diminuir em valores absolutos? Ouvimos até Costa falar em «diminuição extraordinária da dívida nos anos futuros» (mas em percentagem do PIB e não em valores absolutos, em que aumenta mesmo).

Já Sócrates dizia que as dívidas são «para ser geridas» – mas, até para isso, teríamos de fazer um enorme esforço de contenção, dado o BCE ir cortar para metade, em futuro próximo, a compra de dívidas públicas nacionais. E, sem este ‘conforto’, a situação pode ficar bem complicada para países como o nosso, dado o enorme montante da dívida nacional.

Mudemos de assunto.  A guerra no PSD vai-se acendendo entre Rui Rio e Santana Lopes. Depois das entradas em jogo, cada um ao seu estilo, vão começar as digressões nacionais. Após as intervenções estruturadas de Passos Coelho, que conduziram a duas vitórias eleitorais do PPD/PSD em circunstâncias adversas, Rio e Santana vão fazer percursos muito diferentes. Rio pela esquerda, tentando quiçá um Bloco Central com António Costa; Santana mais pelas origens do PPD, procurando ser objetivamente uma alternativa ao PS.

Vamos ver se, no final desta disputa, os militantes não irão sentir saudades de Passos Coelho, ao estilo de ‘volta, estás perdoado’.

Uma palavra final para Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde. Um Senhor durante décadas na defesa da Saúde Pública e a quem o país muito deve! Tive pena de não assistir à sua última aula (dada a minha ausência de Portugal na altura), pois merece todo o nosso reconhecimento – dado, durante todo este tempo, ter colocado o seu vasto conhecimento ao serviço de todos.

 

P.S. – O futebol continua a sua saga entre um VAR que não funciona, dirigentes que se digladiam ao estilo romano das lutas contra leões, com oratórias beligerantes ditadas pelos departamentos de comunicação.

Fernando Gomes e Pedro Proença vão começando a bramar, mas a eficácia é nula porque entre os clubes ninguém respeita ninguém e ninguém se dá ao respeito. A nova moda de guerrilha são as análises imediatas dos lances após os jogos dos ‘inimigos’, consoante os julgamentos feitos pelos árbitros (com o VAR ora a funcionar, ora e estar avariado).

Mas não há ninguém que faça um ponto de ordem à mesa, com castigos a doer e de acordo com a gravidade das declarações proferidas? O Ministério Público não encontra nestas profusas declarações, verbais ou via redes sociais, sinais de incitamento à violência?