“Disse que é o crescimento que gera emprego e é verdade, mas o desemprego também gera crescimento e o desemprego sobretudo gera uma forma mais sã de sanearmos as nossas contas públicas e é por isso que esse tem de ser, e continuar a ser, uma prioridade fundamental da nossa política económica”. António Costa discursava, no passado domingo, durante a cerimónia de entrega do prémio Manuel António da Mota, no Porto
Quem não se lembra do “Portugal mais pobre” de José Sócrates? Ou “é fazer as contas” de António Guterres? A troca entre o termo “emprego” e “desemprego” pode não passar disso mesmo, uma gafe. Ou um lapso, segundo uma fonte próxima do primeiro-ministro.
Também é assim que Os Verdes veem a situação: “Não conseguimos entender senão como um lapso”, explicou ao i o gabinete de comunicação do partido, “porque são contraditórios. Nunca o desemprego poderá levar ao desenvolvimento da economia”. O partido liderado por Heloísa Apolónia, e que faz parte do apoio parlamentar ao governo, acrescentou ainda que “a sustentabilidade da Segurança Social faz-se com o menor número de desempregados”, o que reforça a convicção do partido que foi apenas uma gralha.
“Se fosse com o Passos Coelho, era abertura de telejornais”, disse Duarte Marques, deputado do PSD, uma situação também referida por Diogo Feio, do CDS, acrescentando que se fosse com o anterior primeiro-ministro resultaria em “muita indignação e muita conversa”.
“Isto é só ridículo e lamentável”, acrescentou Duarte Marques dizendo estar “sem palavras”. “Espero que tenha sido mesmo uma gafe, mas estamos tão habituados a gafes do primeiro-ministro”, mas que desta vez “foge a boca para a sua verdade”, acrescentou Duarte Marques que afirma que a política de António Costa assenta “em salários baixos e precariedade”.
Diogo Feio estranha “esta frase vinda de um primeiro-ministro” uma vez que é dever do chefe de Estado “fomentar e facilitar” a relação com as empresas “que é quem vai criar crescimento e emprego”. Também o centrista António Carlos Monteiro, afirma que já estar “habituado que ele [António Costa] diga uma coisa e o seu contrário como se a coerência não fosse necessária aos responsáveis políticos”.
“Para quem criticava a austeridade criativa, tem um exemplo de desemprego criativo”, rematou
PCP e Bloco de Esquerda não quiseram comentar a situação. Do gabinete do primeiro-ministro, não houve reação à declaração.
Emprego e crescimento
Gafes à parte, António Costa focou o seu discurso no emprego onde afirma ter “boas razões para continuar a apostar” acrescentando que é “uma grande prioridade” e “seguramente o maior e mais importante” fator de coesão social.
Outro “grande desafio” que o primeiro-ministro identificou foi “erradicar a pobreza, eliminar os fatores de exclusão social” que, segundo António Costa, são “uma herança secular, uma herança que certamente a crise dos últimos anos agravou, mas é uma herança a que temos que dar resposta”.
“O maior défice que temos não é o défice das finanças, é o que acumulamos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação, de ausência de preparação”, disse António Costa ainda durante o discurso. “E é esse défice histórico que nós temos que vencer, se quisermos, e não podemos deixar de querer (…) sermos melhores do que os melhores”.
O primeiro-ministro destacou a necessidade da educação na vida social, afirmando que não é possível “ignorar que o acesso à educação versátil é absolutamente a condição fundamental para que as crianças e os jovens de hoje possam responder às diferentes necessidades do futuro”.
Costa defendeu ainda a urgência de continuar a “redução da pobreza entre as crianças e os jovens” que “é a primeira condição para não estar a reproduzir uma nova geração de pobreza que mina o país”.